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30 outubro, 2012

VII. Quando fui barrado de entrar na Rep. Tcheca (FINAL)

- Sétima - e última - parte -

1. Quando fui barrado de entrar na República Tcheca.

 Aconteceu por ocasião da minha primeira InterRail (viagem global pela Europa de trem), na primavera de 2001, quando já morávamos há dois anos na Finlândia.


Despedi-me da maravilhosa Viena...

... com direito a relaxar à beira do famoso rio Danúbio, que via pela primeira vez. E assim preparei tranquilamente meu espírito para a "próxima parada": Cracóvia, Polônia, para visitar o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau pela primeira vez.

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Tomei o trem noturno Viena-Cracóvia e, pela primeira vez, reservei uma cabine leito para poder descansar devidamente diante da experiência que teria no dia seguinte, bem forte, eu sabia. Depois de um par de horas, já tendo conciliado o sono, ouvi fortes batidas à minha porta. Acordei de sobressalto para ouvir de policiais da fronteira tcheca que eu teria 10min para juntar minhas coisas e sair do trem, sem conversa: "Rua!". Inexperiência minha, pois naquele tempo o Brasil não tinha relações diplomáticas com a República Tcheca, portanto mesmo para atravessá-la dormindo eu precisava de um visto de trânsito, algo assim. Arrumei apressadamente minhas coisas e fiquei na escura e vazia estação daquela última cidadezinha austríaca, quase de dar medo, esperando sozinho no meio da noite o próximo trem de volta a Viena. Estaria eu sonhando que participava de um filme noir sobre espionagem? Alívio quando, depois de quase uma hora, parou um trem que me levou de volta no meio da noite. Fiquei em um bar vienense que não fechava à noite e pela manhã tomei um trem para Berlim, costeando a fronteira alemã com o país tcheco para chegar a uma cidadezinha chamada Frankfurt (não a am Main) e dali tomar o trem para fazer caminho semelhante, agora rumo sul, com muitas escalas pela desconhecida Polônia até chegar à Cracóvia 
(ver link: Auschwitz).

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2. Quando o Exército de Salvação foi barrado de trabalhar na antiga Checoslováquia.

As operações do ES, Armáda Spásy em tcheco,  começaram em 1919, sendo o pioneiro o Coronel Karl Larsson. Muitas atividades evangelísticas e sociais foram mantidas até serem suprimidas em junho de 1950.
Depois de abertas as fronteiras da Europa central, a obra foi reinicida e o ES na Holanda foi convidado a responsabilizar-se pela obra tcheca, anexando-a ao território holandês. No final dos anos 90 centros foram abertos em Havirov, Praga, Brno e Ostrava ajudando os carentes tanto espiritual quanto socialmente (Year Book).



O ES hoje na República Tcheca.

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Um heroi tcheco:



Josef e Erna Korbel - ele passou 10 anos em um campo de concentração soviético.

Josef era um homem simples, um homem humilde que amava a Jesus. Tendo sobrevivido à ocupação nazista no seu país, a Checoslováquia, vieram os comunistas... Foi preso pelos soviéticos por liderar a banda juvenil do Exército de Salvação que nas ruas tocava hinos e compartilhava o Evangelho com os que passavam. Boris, seu filho mais velho, foi aprisionado por ser um membro da resistência tcheca. Seu filho mais novo, Victor, foi assassinado por falar corajosamente acerca de sua fé cristã. Enquanto Josef estava na prisão, sua esposa Erna e filha conseguiram sobreviver ainda que enfrentando o brutal inverno, com muita neve, em uma simples tenda.



No livro que escreveu anos mais tarde, mencionou outros salvacionistas tchecos que sofreram idêntica perseguição. Brother André escreveu o prefácio do livro de Josef, "No campo de meu inimigo". Joe tornou-se uma inspiração para o Irmão André, chamado de "o contrabandista de Deus" e a muitos outros que ajudaram a colocar Bíblias através da cortina de ferro. Muitos cristãos oraram continuamente por Josef durante aquela horrível década em que passou em campos de concentração soviéticos. A família escapou da Checoslováquia comunista através de diferentes caminhos e eventualmente reuniu-se nos Estados Unidos. Josef e Erna continuaram seu ministério no ES nos anos de vida que lhes restaram.
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Final feliz de uma grande experiência: visitar a República Tcheca e participar do grande congresso salvacionista.



The last, but not the least. Uma das minhas melhores fotos de Praga. 



Chegada a hora de fazer o check-out do hostel naquela segunda-feira às 11h00, pensei em como preencheria meu último dia. Confesso que já vira tanto da bela cidade que bastava, assim, tendo em mente passar o dia e a noite no aeroporto de Praga - para tomar o voo de volta para Munique e então Helsinki na terça-feira bem cedo - peguei o metrô e o ônibus para lá.



Tão logo cheguei ao moderno aeroporto de Praga, uma "luzinha acendeu-se na minha mente", mas totalmente certo de que a idéia não daria certo. Tanto que me aproximei do balcão da Austrian Airlines/Lufthansa e, sem esperanças,  arrisquei perguntar se por acaso poderia antecipar meu voo de volta para casa, já que teria que passar infindáveis horas no aeroporto... A prestativa funcionária foi-me adiantando que precisaria pagar uma taxa (do que eu já sabia, de cerca de $ 100.00, o que eu não faria para não estourar o meu orçamento daquela viagem). Para surpresa minha, no entanto, falou-me: "Estou com um problema no computador... mas se você correr, mesmo, poderá pegar o voo para Munique e lá transferir para Helsinki, 
sem pagar nada!"
Desta vez foi "Rua! da República Tcheca", mas no bom sentido!!


Literalmente corri ao portão respectivo...


... e logo estava no turbo-hélice para Munique e, sem tempo sequer de tomar um café grátis no aeroporto (ver primeira postagem da série), estava no Boeing voltando para casa um dia mais cedo!! Minha seriedade na foto significa mais alívio, grande!



Chegando, causei natural surpresa à Anneli, que me esperava no dia seguinte. Pelas grandes janelas do nosso pequeno apartamento, o adiantado outono finlandês. Estava em casa, depois de mais uma viagem bem-sucedida!



Dando uma busca nas minhas fotos desta viagem, vi que faltava publicar uma, exato esta que quando tirei no aeroporto de Munique tinha em mente deixar para a postagem final. Em alemão e em inglês: "Este carrinho não tem freio." E eu por acaso tenho com relação a viajar?? Também não, e já vou pensando na próxima, claro, se Deus permitir!

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Link


Quando visitei Auschwitz-Birkenau, minhas impressões:

http://paulofranke.blogspot.fi/2006/08/campo-de-concentraco-de-auschwitz.html

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Da minha coleção, selos antigos da Checoslováquia:



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3 comentários:

  1. Paulo, acessei e li seu blog, não sabia eu que há apenas 11 anos isso ainda acontecia em plena Europa, ainda mais na então recém criada República Tcheca...surpreso.
    E.C.

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  2. Olá Paulo! Muito interessante esse post sobre a Rep. Tcheca. Apesar dos detalhes históricos o q mais me agradou foi saber do episódio onde vc foi personagem.

    Tenho certeza que, assim como eu, outras pessoas ficaram curiosas por saber maiores detalhes do momento na fronteira.

    Será que poderia compartilhar um pouco mais... passar um pouco mais dessa experiência... quais foram os teus pensamentos... como foi a noite no bar... se conheceu ou conversou com outras pessoas.

    Aguardo o próximo "capítulo".

    Parabéns pela postagem e obrigado por nos deixar beber um pouco mais de cultura.

    Abs,

    Henrique Soares

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  3. Legal, amigo Henrique! Quem sabe um dia... Um pouco da continuacão aqui: a noite no bar foi muito ruim, naqueles tempos sem Internet... uma Coke para tirar o sono. Não conversei, que me lembre, com ninguém. Tomando o trem para Berlim, precisei trocá-lo em uma cidade da fronteira Áustria-Alemanha... Outro pequeno incidente: precisava tomar o café da manhã e percorri restaurantes e ninguém aceitava "traveller-check". Já estava quase desmaiando de fome quando tive uma idéia: entrei num bom restaurante sem perguntar se aceitavam ou não, regalei-me no breakfast e quando fui pagar, claro, não aceitavam. Deixei, então, minha bagagem com eles e fui ao Holiday Inn, pois meus travellers eram americanos e tiveram que trocar (com algum prejuízo meu, claro). Mas tudo bem, pelo menos não desmaiei de fome... E prossegui a viagem. Naquele tempo viajar de trem pela Polônia era muito difícil, cheio de escalas no meio da noite... nos barzinhos novelas brasileiras com alguém lendo em polonês acima das falas. Pelo menos era algo um pouco familiar... Bem, sobrevivi, mas foi a etapa mais difícil daquela primeira InterRail. Aí pensei: puxa, tanto trabalho para querer ir para Auschwitz!! O contrário dos que para lá foram forcados. Sempre há motivos de se dar gracas a Deus, por tudo!

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