RevendO - A maior ÅventurÅ de fé de Paulo Franke!
A maior ÅVENTURÅ de fé de Paulo Franke!
Nunca mais voltei àquele lugar onde vivemos de julho de 1989 a março de 1993, mas com certa frequência voltam as recordações de uma fase atípica de minha vida e que nesta postagem chamo de A maior åventurå de fé de Paulo Franke. Tempo difícil, mas "aureolado", de muitas conquistas espirituais, não isento, porém, de grandes desafios e de algumas dificuldades. (A letra sueca Å-å tem o som de ô, portanto Åland pronuncia-se "Ôland").
Quando trabalhávamos em um orfanato em Jacutinga, sul de Minas Gerais, logo depois que voltamos dos E.U.A, em 1986, sentimos ambos um chamado para a Finlândia. Nada de estranhar, afinal, pois sendo minha esposa nascida naquele país, simplesmente fazia sentido. Estranho era o fato de que, naquele tempo casados há 13 anos, tal coisa jamais passara pela nossa cabeça: irmos para o seu país de origem!
Escrevemos para o Quartel Nacional oferecendo-nos como "oficiais de reforço" para aquela terra, o que nos foi negado veementemente. Por esse e por outros fatos, minha estrutura salvacionista ficou um tanto abalada na época. Mas de surpresa visitou-me um amigo que eu conhecera em Portugal, homem de Deus com quem orara naquele país muitas vezes, até em uma inesquecível reunião de vigília em um castelo medieval. Juntos novamente, orar tornou-se uma constante. E também viajar para mostrar-lhe algo do Brasil (na foto, nas Cataratas do Iguaçu), que ele visitava pela primeira vez.
Viajando com esse amigo para mostrar-lhe o Rio de Janeiro, acedi a um convite de um pastor que conhecera de visitar sua igreja, e o acampamento que realizavam nos dias de carnaval. Após dar meu testemunho do chamado para a Finlândia nesse camp, um homem alto e muito apessoado, membro da igreja, aproximou-se de mim e, interessado, conversamos sobre a Escandinavia, apresentando-se como um dos diretores de uma companhia de navegação que fazia a rota Brasil-Escandinávia. A seu pedido, meu amigo e eu fomos ao seu belo escritório na Urca no dia seguinte e, boquiaberto, recebi dele uma passagem em um navio cargueiro, para toda a família, gratuitamente...
Resumindo... diante da porta aberta para irmos cumprir com o nosso chamado àquele país - e diante da negação veemente de nossa igreja - aceitei a provisão do Senhor com respeito as passagens e desligamo-nos do Exército de Salvação. No tempo de espera para partirmos, fomos hospedados pelo amado irmão pastor, médico e cantor evangélico, Paulo Cezar Brito (foto) no apartamento de hóspedes de sua igreja (Maranata), uma igreja cheia de amor fraternal. O apartamento ficava no bairro do Maracanã, de onde avistávamos o grande estádio.
Chegado o tempo certo, depois de três meses no Rio de Janeiro, despedimo-nos da família em Pelotas e São Paulo e, felizes e entusiasmados, dirigimo-nos ao porto de São Francisco do Sul-SC para tomarmos o navio Laplandia, que nos conduziria a Oslo, na Noruega. Meus ancestrais, tanto portugueses (pareço-me um deles na foto!) quanto alemães haviam feito o mesmo trajeto pelo Atlântico; agora era a minha vez de fazê-lo no sentido contrário, rumo ao norte!
Emigrante? Missionário? Andarilho? Fosse o que fosse, eu estava a caminho da terra de nosso chamado, e isso nos alegrava sobremaneira na viagem marítima que, com exceção de minha esposa, nós quatro fazíamos pela pela primeira vez, recebendo até certificado de termos atravessado a linha do Equador.
17 dias no mar, a bordo de um navio moderno, limpo, lindo, com cabine reservada para o casal e outra para os filhos, com salas de ginástica e esportes, piscina no deck, um navio cargueiro com toda a estrutura para transportar passageiros. "Eu navegarei no oceano do Espírito", cantávamos seguido. E curtimos ao máximo a experiência, que eu identificava como a do apóstolo Paulo em suas viagens missionárias! (Meu exemplar da Bíblia daquela época - que ainda guardo com carinho - foi sublinhado constantemente em trechos que "batiam" nas experiências tanto do Paulo, o apóstolo, quanto do Paulo, o agora missionário!)
"... é necessário que vamos dar a uma ilha", registra Lucas em Atos 27:27.
Por que a ilha de Åland, um verdadeiro arquipélago entre a Finlândia e Suécia?
Na viagem ao Rio de Janeiro que fizera com meu amigo português, ganhara não somente as passagens para viajar - o que significara uma porta não aberta mas escancarada para cumprir o chamado de Deus - como também um contato na Finlândia através de um outro pastor que eu conhecera pela primeira vez naqueles dias. Ele conhecera em uma conferência alguém da Finlândia e me passava o nome da pessoa e endereco, para quem apressadamente escrevi. Ausente do país há décadas, minha esposa não se sentiu à vontade de simplesmente "bater na porta de parentes". Decidíramos seguir o "mapa de Deus" e irmos totalmente por nossa conta, "para o que desse e viesse", confiados na direção do Senhor.
Fomos recebidos em Oslo por missionários salvacionistas que haviam trabalhado no Brasil, e logo chegávamos à ilha, banhada pelo lindo e ensolarado verão escandinavo, do sol-da-meia-noite. A vimos repleta de turistas (tão popular era o lugar que o filho do presidente John Kennedy, John Kennedy Junior, lá havia estado recentemente, contaram-nos).
No entanto, o contato que tínhamos provou-se desde o início ser um contato errado, para não dizer um "pesadelo"... O apóstolo Paulo em suas viagens havia enfrentado "feras", o que fez identificar-me novamente com ele. Resumindo a trágica e sinistra "boas-vindas", enquanto meus filhos estavam em um passeio e minha esposa desembaraçando a bagagem na capital Helsinki, saí daquela casa "hospedeira" atormentado no meu espírito a caminhar a esmo pela ilha, atônito perguntando a Deus a razão pela qual nossa chegada estava dando tão errado, afinal?
Caminhando completamente sem direção pelas ruas que eu não conhecia, fui dar em um templo da Igreja Pentecostal fechado naquele momento. Ali mesmo ajoelhei-me e disse para Deus: "Senhor, todos esses anos tenho ajudado pessoas no Exército de Salvação... agora estou eu aqui precisando como nunca de ajuda!" Logo chegou o zelador da igreja no seu carro e conduziu-me à casa de irmãos pentecostais que nos receberam como hóspedes bem-vindos até conseguirmos uma casa para alugar, no que também fomos ajudados por eles. Interessante que o zelador não planejara passar pelo templo, mas algo o fez dirigir-se a ele sem saber o por quê, contou-me ele mais tarde.
Poucos dias após nossa chegada, atordoado por sentir e discernir que o contato na ilha havia sido um contato errado e suspeito, saí a caminhar com minha filha e, de repente, cruzou à nossa frente uma senhora de idade andando de bicicleta. "Olha!", falei-lhe, "como é parecida com a holandesa Corrie ten Boom!". Minha filha concordou, pois já lera também os livros daquela mulher que, por abrigar judeus, fora parar em campos de concentração.
Logo o irmão pentecostal que nos acolhera após sairmos às pressas do "contato errado", levou-me, prestativo, à casa de alguém que tinha uma para alugar. Ao abrir a porta, fui tomado de surpresa: a dona da casa era a mesma senhora que cruzara nosso caminho andando de bicicleta: a "Corrie ten Boom que protegera judeus em sua casa!"
Annie, como se chamava, falava apressadamente o sueco, língua da ilha, que naquela altura eu não entendia. Seu marido fora no passado um missionário do Exército de Salvação na China, e isto bastara para ela: saber que foramos do Exército de Salvação. Assim "Corrie ajudou os judeus em necessidade: nós, no caso!"
Logo fomos ver a casa onde moraríamos, um lindo sobrado branco de madeira, no estilo das casas do lugar. O susto da chegada passara e agora a providência do Senhor nos comovia e nos fazia gratos a Ele diante dessa nova fase de nossas vidas.
Alguns anos depois desenhei Annie e presenteei-o como nosso cartão de aniversário.
Moramos no casarão todos os quase quatro anos em que vivemos na ilha de Åland. Espaçoso, cada filho tinha o seu próprio quarto, cujas janelas davam para a floresta que o circundava, um espetáculo de beleza a cada estação do ano (ver fotos abaixo).
A união destas duas fotos ficou interessante, inclusive para contar que pela primeira vez tínhamos uma casa de jardim. Durante a chegada da primavera, na Páscoa do primeiro ano, a flor amarela típica simplesmente desabrochou no nosso canteiro, causando-me admiração. Quando morreram na chegada do verão, o mesmo canteiro, sem requerer nenhum cuidado - pois nunca fui jardineiro! - encheu-se de lindas tulipas! Tudo era surpresa na nova vida, embora nem tudo fossem flores...
Tínhamos "posto a mão no arado", como diz a Escritura, e não podíamos voltar atrás. Nossos filhos por sua vez avançavam nos estudos na escola do lugar, onde tiravam boas notas mesmo que usando pela primeira vez o idioma sueco. Tinham amigos agora e tenho certeza de que poderiam dar a versão própria, com muitos detalhes, daquele tempo de suas vidas.
Assim que fomos morar no "casarão" - que ficava em uma floresta no interior da ilha - fez-se necessário comprar um carro. E assim adquirimos um Morris que passei a chamar de "boa índole". Velho, com um vazamento crônico de óleo, sem conseguir trancar as portas, sem a chave sair da ignição (eu colocava uma luva sobre ela para "disfarçar" o problema (mas quem, afinal, o roubaria?)), sem cintos de segurança, ele nunca nos deixou "na mão". Enquanto carros modernos precisavam no inverno aquecer o motor em um dispositivo elétrico durante a noite, para "pegar" na manhã seguinte, o nosso Morris ao girar a chave sempre "pegava" automaticamente e em poucos minutos já estava também aquecido no seu interior. Falhou uma só vez quando a temperatura baixou a 20 graus negativos. "Perdoei-o" e fui a pé para o trabalho.
Prudententemente, por ser um carro velho, eu o dirigia bem devagar, ainda mais quando a neve cobria as estradas que davam para o nosso trabalho. Muitas vezes guardas me mandavam parar e, humilhantemente, eu passava pelo teste do "bafômetro", desconfiados de que dirigia devagar por estar embriagado.
Quase no final de nossa estada na ilha compramos um Toyota. Por ser uma província autônoma da Finlândia, as placas dos carros são exclusivas (a ilha tem bandeira própria, selos próprios, rapazes não prestam o serviço militar, além de outras tantas características do lugar.)
Não mencionado até aqui, naturalmente obtivemos emprego poucas semanas após nossa chegada. Anneli, como cidadã, iniciara a trabalhar logo, enquanto eu aguardei algumas semanas até obter o visto de trabalho. Referindo-me a esse serviço, eu costumava refletir: "Agora que estou encarando esta fase de meu ministério com tanta seriedade, o Senhor no Seu 'senso de humor' me faz trabalhar em uma fábrica de... brinquedos?!"
Anneli trabalhava em um lado do setor de montagem da fábrica enquanto eu imprimia o nome da firma nas rodas e rodinhas dos carrinhos em outro. Eram horas intermináveis, felizmente sentado diante de uma máquina e tendo à frente um janelão que me oferecia a cada estação do ano a respectiva paisagem que dava para uma floresta. Transformei o lugar em um altar onde, "sem precisar levar o cérebro ao trabalho, somente os braços" (como se brincava sobre trabalho braçal de fábrica), eu, tolhido na minha criatividade típica, orava sem cessar e procurava ouvir a voz do Espírito Santo durante a jornada diária.
Hoje em dia, ao olhar propaganda dos mesmíssimos modelos de brinquedos (próprios para serem usados em parques, consultórios etc) em jornais e revistas, não possoa deixar de me lembrar da experiência que de fato muito me valeu, por fazer-me entender como nunca ou "sentir na pele" a experiência primeira de ser um operário, como muitos membros do Exército de Salvação em lugares onde trabalhara no Brasil. Além, naturalmente, de nos prover do "pão nosso de cada dia", que nunca nos faltou.
No rigor do nosso primeiro inverno na ilha, cujas temperaturas chegavam a 25 graus negativos, a lareira de nossa casa nos aquecia e nos fazia economizar na conta do caro sistema de aquecimento. Irmãos na fé muitas vezes nos proveram de lenha, estocada no fundo da casa. Em cada detalhe, uma experiência de vida totalmente nova.
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