Pelos caminhos pitorescos do cinema antigo
Muitos jovens amigos do orkut assistiram ou assistem a filmes antigos na telinha da TV, na sessão da tarde, quando não adquirem seus DVDs. Tem sido interessante trocar idéias e recordar esses filmes a que assisti não na telinha, mas no telão dos imensos cinemas do passado (como eram grandes comparados às salinhas dos shopping-centers atuais!!). Tendo nascido em 1943, minhas recordacões dizem respeito principalmente aos filmes da década de 50.
Um tio-avô, no entanto, gostava de contar sobre as sessões de cinema mudo do tempo quando era jovem (algo como início da década de 20?). Ríamos ao ouvir que a platéia sentava-se em bancos duros sem encosto enquanto uma bandinha desafinada fazia o fundo musical, conforme a cena do filme, se agitada a música se agitava, se a cena era calma virava uma música "harmoniosa"... Porque o filme "rebentava" com facilidade, a "sessão de cinema" muitas vezes era bem prolongada. No outro dia, segunda-feira, contava-nos que era então a vez de o corpo estar "rebentado" e dolorido para o dia de trabalho, simplesmente por ter assistido a um filme, verdadeira mão-de-obra. A propósito, certa vez li um artigo da Eliana Macedo contando que nos filmes nacionais os artistas também ajudavam a trocar os cenários, mudar a decoracão etc. Não eram só os espectadores da década de 20 que associavam cinema à mão-de-obra!
Na década de 50, recordo-me de aos domingos à tarde a fila para entrar no cinema dobrar o quarteirão. Era um verdadeiro teste de paciência e resistência, debaixo às vezes de chuva ou de um frio intenso como faz até hoje no sul do país. Hoje o Cine Capitólio transformou-se em um estacionamento de carros. Mas na década de 50 era a gente que "estacionava" bem neste lugar, diante do prédio amarelo, chegando a vez de adentrar o cinema.
Até hoje me faz rir a lembranca de uma senhora frágil na bilheteria de um certo cinema local. Quando a via nos aniversários de uma tia, de quem era amiga, olhava-a como se estivesse vendo uma "artista de cinema", simplesmente por nos vender o ingresso a tantas maravilhas e artistas lembrados até hoje!
Muitas vezes ao desconhecer totalmente um filme da década de 50, pergunto a mim mesmo se teria chegado à nossa cidade ou quem sabe coincidira com a morte de tantos tios-avós, quando meu pai suspendia nossa ida ao cinema por três semanas... duplo luto!
A cultural cidade de Pelotas-RS possuía diversos cinemas e dois teatros. Por eles passaram diversos artistas nacionais e internacionais, os últimos em suas escalas ao dirigirem-se às capitais do Prata. Ainda que o primeiro vôo da VARIG tivesse sido entre Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande, o meio de transporte principal das companhias teatrais era o "vapor"! O belíssimo e luxuoso Teatro Guarany certa vez recebeu a família Von Trapp, que arrancou longos aplausos ao cantarem juntos um número... cada um posicionado em um camarote.
Ao saber esta semana que Adelaide Chiozzo ainda vive (sua parceira em muitos filmes, Eliana, não mais), uni-me à sua comunidade. Recordo-me dos shows que os artistas da Atlântida faziam no Cine Avenida, a dois quarteirões de nossa casa.
À saída, segurávamos com mão trêmula o nosso bloquinho de autógrafos no meio de uma pequena multidão. Recordo-me naquela noite de chuva quando Eliana olhou para minha prima, de grandes olhos azuis e grossa capa de chuva que usávamos na época, e exclamou: "Como são lindas as criancas gaúchas!"
Enfim, são enumeráveis as lembrancas do cinema da década de 50, o passatempo maior da juventude nos tempos dourados, cujo brilho permanece até hoje, haja vista o interesse de tantos jovens pelas comunidades que enfocam o cinema antigo.
Leia mais sobre cinema neste blog: Em Hollywood/ Fotos de artistas recebidas de Hollywood/ Ele era importante! (Charles Chaplin) e O Exército de Salvacão e o Cinema
Um tio-avô, no entanto, gostava de contar sobre as sessões de cinema mudo do tempo quando era jovem (algo como início da década de 20?). Ríamos ao ouvir que a platéia sentava-se em bancos duros sem encosto enquanto uma bandinha desafinada fazia o fundo musical, conforme a cena do filme, se agitada a música se agitava, se a cena era calma virava uma música "harmoniosa"... Porque o filme "rebentava" com facilidade, a "sessão de cinema" muitas vezes era bem prolongada. No outro dia, segunda-feira, contava-nos que era então a vez de o corpo estar "rebentado" e dolorido para o dia de trabalho, simplesmente por ter assistido a um filme, verdadeira mão-de-obra. A propósito, certa vez li um artigo da Eliana Macedo contando que nos filmes nacionais os artistas também ajudavam a trocar os cenários, mudar a decoracão etc. Não eram só os espectadores da década de 20 que associavam cinema à mão-de-obra!
Na década de 50, recordo-me de aos domingos à tarde a fila para entrar no cinema dobrar o quarteirão. Era um verdadeiro teste de paciência e resistência, debaixo às vezes de chuva ou de um frio intenso como faz até hoje no sul do país. Hoje o Cine Capitólio transformou-se em um estacionamento de carros. Mas na década de 50 era a gente que "estacionava" bem neste lugar, diante do prédio amarelo, chegando a vez de adentrar o cinema.
Foto: Cleusa Pino
Às sextas-feira, minhas irmãs, junto com duas tias-avós, iam ao "Dia das Mocas", ocasião quando as mulheres pagavam meia-entrada. O "pipoqueiro" tinha a sua carrocinha na frente do cinema e o "baleiro" caminhava com sua cesta pelos corredores vendendo balas, chocolates e o famoso drops de anis. E quem da época não lembra do/a "lanterninha" que indicava os lugares para os que chegavam atrasados? E o barulho infernal nos filmes de cowboy?
Até hoje me faz rir a lembranca de uma senhora frágil na bilheteria de um certo cinema local. Quando a via nos aniversários de uma tia, de quem era amiga, olhava-a como se estivesse vendo uma "artista de cinema", simplesmente por nos vender o ingresso a tantas maravilhas e artistas lembrados até hoje!
Muitas vezes ao desconhecer totalmente um filme da década de 50, pergunto a mim mesmo se teria chegado à nossa cidade ou quem sabe coincidira com a morte de tantos tios-avós, quando meu pai suspendia nossa ida ao cinema por três semanas... duplo luto!
A cultural cidade de Pelotas-RS possuía diversos cinemas e dois teatros. Por eles passaram diversos artistas nacionais e internacionais, os últimos em suas escalas ao dirigirem-se às capitais do Prata. Ainda que o primeiro vôo da VARIG tivesse sido entre Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande, o meio de transporte principal das companhias teatrais era o "vapor"! O belíssimo e luxuoso Teatro Guarany certa vez recebeu a família Von Trapp, que arrancou longos aplausos ao cantarem juntos um número... cada um posicionado em um camarote.
Ao saber esta semana que Adelaide Chiozzo ainda vive (sua parceira em muitos filmes, Eliana, não mais), uni-me à sua comunidade. Recordo-me dos shows que os artistas da Atlântida faziam no Cine Avenida, a dois quarteirões de nossa casa.
À saída, segurávamos com mão trêmula o nosso bloquinho de autógrafos no meio de uma pequena multidão. Recordo-me naquela noite de chuva quando Eliana olhou para minha prima, de grandes olhos azuis e grossa capa de chuva que usávamos na época, e exclamou: "Como são lindas as criancas gaúchas!"
Enfim, são enumeráveis as lembrancas do cinema da década de 50, o passatempo maior da juventude nos tempos dourados, cujo brilho permanece até hoje, haja vista o interesse de tantos jovens pelas comunidades que enfocam o cinema antigo.
Leia mais sobre cinema neste blog: Em Hollywood/ Fotos de artistas recebidas de Hollywood/ Ele era importante! (Charles Chaplin) e O Exército de Salvacão e o Cinema
5 Comments:
às vezes me pergunto se nasci na época certa. Pois um dos meus sonhos é o de ir a um cinema antigo, com banda desafinada e tudo! (hehehe)
Creio que seria encantador.
By Unknown, at quarta-feira, setembro 20, 2006 1:41:00 AM
Bem eu achei fantastico,pois apesar de ter nascido em Pelotas em 1961,eu vivi,algumas situacoes parecidas,como chegar a ver o tal flanelinha,so que vi em Porto Alegre.Eu nasci la,em Pelotas mas nao conheco a Cidade,pois meus pais se mudaram comigo que era a primeira filha para Sao Paulo quando eu tinha 19 dias apenas.Mas tenho minhas tias avos que vivem la.E meu pai tambem nasceu em Pelotas.Tenho curiosidade em conhecer.Sua descricao da visita ao Haway e muito bela.E ainda nao olhei tudo,vou fuxicar mais um pouco e depois digo.Com meu problema tenho que escrever o que vejo e penso aos poucos senao esqueco.Vai por partes entao.Belo trabalho.
By Anônimo, at terça-feira, janeiro 09, 2007 4:28:00 PM
Nossa fiquei ate emcocionado ao ver a casa Anne simplesmente triste saber que ela sofreu tanto
By Victor Vian, at segunda-feira, outubro 01, 2007 11:54:00 PM
Parabéns pela postagem tio. Aprecio principalmente os filmes que vão dos anos 50 aos anos 70. Não sei se te lembras, mas tenho hoje um projetor sonoro (doméstico) de super 8, um GAF, japonês. As películas, hoje, além de caras, estão difíceis de encontrar. Comprei recentemente de um vendedor do ML - o qual já me vendeu muitos aparelhos - seis rolos de filmes particulares feitos por alguma pessoa. Um abraço.
By Roger D Franke Ferrer, at domingo, maio 13, 2012 2:54:00 PM
Mais uma vez, parabéns pela descrição de nossas vidas na década de 50 e nossa principal distração que era irmos frequentemente ao cine Avenida! Hoje, mais do que nunca, consigo perceber que familia maravilhosa era a nossa, modéstia à parte. Aí é que vejo quanta sabedoria na frase "Éramos felizes e não sabíamos"! Tenho fé, porém, que "a festa não vai acabar, quando findar na terra, no céu vai continuar", como diz o o bonito corinho!
By Anônimo, at quinta-feira, agosto 28, 2014 1:21:00 PM
Postar um comentário
<< Home