Quando, como e por que ingressei no Exército de Salvação?
Corria o ano de 1961. Eu tinha 18 anos e morava com minha família na cidade de Pelotas-RS. Embora frequentando a igreja, cantando no coral e tendo bons amigos nela, um vazio no meu íntimo começou a gritar alto. Essa insatisfação tinha muito a ver com o meu futuro. Era também uma inquietação com relação ao chamado de Deus para trabalhar para Ele em tempo integral, o que sentia de quando em quando mas não entendia claramente - apalpava o caminho à frente sem encontrar uma porta sequer. Ou uma encruzilhada de caminhos a escolher, mas um muro intransponível que me fazia nada encontrar a não ser tristeza em uma época da vida que deveria ser marcada por alegrias. Embora dissessem ser uma fase natural na juventude, isso não me consolava.
A figura daquele homem, aparentando ser um estrangeiro, e seu gesto cristão “diferente”, a ponto de ir a um lugar onde a bebida rolava solta, me impressionou positivamente. A fumaça de meu cigarro se dissipou, o sabor da bebida depois de algumas horas também, mas a lembrança daquele homem de Deus não me abandonou.
A “dose da injeção do Senhor" não fora suficiente e eu certamente precisaria de outras doses, pois aquele encontro no bar ou mesmo o impacto inicial que eu tivera foram caindo no esquecimento rapidamente. O jornalzinho, porém, ficou guardado no meu armário.
O filme de ficção científica, enfocando o tempo da Guerra Fria, era “do meu estilo”, preto-e-branco, dramático, depressivo e cheio de desesperança. Combinava com o meu estado de espírito, que poderia ser traduzido por “Comamos e bebamos que amanhã morreremos.” Afinal, a vida era isso mesmo, uma brincadeira sem sentido, assim a encarava.
Nas cenas finais do filme aconteceu a “segunda dose da injeção do Senhor” para mim. Pregando uma mensagem de esperança ao povo australiano em desespero pela proximidade da nuvem radioativa que já exterminara a humanidade, lá estava o Exército de Salvação. Em uma faixa sobre o grupo, cantando e tocando seus instrumentos, estava escrito: “Ainda há tempo, irmãos!” (There still time, brothers!). Então, poucos minutos antes do The End, a faixa continuava lá ao sabor do vento agora contaminado, mas a população, como em outras partes do mundo, desaparecera sem deixar nenhum vestígio.
“Um dia eu vou pertencer a este Exército!”, disse aos meus amigos à saída do cinema. Seus risos e brincadeiras não me afetaram à minima. No bar o gosto da bebida parecia ter mudado… é que no meu interior alguma coisa superior estava acontecendo, como que a mensagem da faixa dizendo-me "Ainda há tempo para ti, Paulo!"
(Um complemento deste tópico "Bomb" poderá ler no final desta postagem)
Mas o dia de voltar para o sul chegou; em poucas semanas esperava-me a nova vida como soldado do Exército Nacional. Jamais imaginaria que uma nova vida também me esperava, dessa vez como soldado do Exército de Salvação!
Naquele tempo a viagem do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul durava cerca de 35 horas (incluindo o trecho Porto Alegre-Pelotas). E foi aí que recebi “a terceira dose da injeção do Senhor”. Tempo havia de sobra para conversar com aquele jovem quase da minha idade, com a marcante diferença de que ele possuía um grande ideal e eu de convicção somente que em poucas semanas eu usaria um uniforme também, mas da cor verde… nada além disso.
O jovem oficial salvacionista, por “incrível coincidência”, dirigia-se à minha cidade para assumir a direção do Corpo salvacionista local. O que significava um Corpo? Como ele ingressara no Exército de Salvação? O que iria fazer na minha cidade? O que significa mesmo esse estranho Exército de Salvação? Essas e muitas outras perguntas fiz a ele no decorrer da longa e interessante viagem.
E assim chegamos a Pelotas e nos despedimos. Eu estava munido do endereço do Corpo (igreja) e dos horários das reuniões (cultos). Na semana seguinte, acompanhado de minha irmã, adentrei a porta do Exército de Salvação... onde estou até hoje! Minha tristeza desapareceu e deu lugar à alegria, deixar o cigarro (de fato, nunca fui viciado em fumar) foi fácil, também a bebida ao ingressar nesse Exército cujos membros são abstêmios totais. A falta de entusiasmo e motivação pela vida foram substituídos por uma vontade imensa de viver para fazer a vontade de Deus, agora a minha Alegria maior! A Jesus Cristo, que de fato sempre amara, agora O amava ainda mais e queria seguir à risca os Seus ensinamentos e preparar-me para segui-lO em tempo integral, cursando o Colégio de Cadetes em São Paulo e tornando-me um oficial, o que aconteceu dois anos após, em março de 1964, quando me despedi de minha família e amigos e embarquei para São Paulo, iniciando-se uma vida de aventuras na qual estou envolvido até hoje.
Em 1958 ele foi o chefe do The Salvation Army (Exército de Salvação) da parte sul da Austrália. Certa vez, uma equipe da Metro-Goldwyn-Mayer visitou seu escritório em Melbourne, solicitando-lhe salvacionistas autênticos para fazerem parte das cenas finais de um filme que estava sendo rodado naquela cidade, On the Beach (A Hora Final), baseado em uma obra literária do australiano Nevil Shute. Albert Mingay consentiu e quando os salvacionistas estavam ensaiando veio-lhe à mente uma idéia para dar mais impacto à cena. A sugestão foi aceita pelo famoso diretor do filme, Stanley Kramer. E assim foi colocada uma faixa sobre o grupo com os dizeres que tanto tocaram a mim, um rapaz sem rumo, vivendo do outro lado do hemisfério sul, que fora ao Cine Capitólio na sua cidade: "There's still time, brothers!" (Ainda há tempo, irmãos!).
Em 1981, quando fui a Melbourne, Austrália, ao tomarem conhecimento do ítem Bomb do meu testemunho, conduziram-me ao exato local onde as cenas finais do filme foram feitas. E minha foto e história viraram capa no jornal do The Salvation Army australiano.
O inglês John Fisk - o homem que Deus usou para encontrar-me no no Bar - com sua esposa Christine e filhinhos nascidos no Brasil.
Sidney Campos no dia de seu casamento com Doreen Shaw, missionária australiana que trabalhou como missionária no Brasil. Com Sidney viajei no ônibus (Bus) voltando de férias. Foi "promovido à glória", termo salvacionista usado para os que morrem, em 1978, com apenas 38 anos. Doreen vive na Austrália com a filha Claudinéia (Neinha), minha amiga no Orkut.
Com minha bonita irmã, que ingressou no Exército de Salvação comigo, em 1962.
Em março de 1964, em plena Revolução, houve uma revolução em minha vida um tanto pacata, ao viajar para São Paulo para cursar o Colégio de Cadetes juntamente com outros jovens seminaristas, "Os Pregoeiros da Fé" (foto).
Em janeiro de 1966, aconteceu o nosso comissionamento como oficiais (ordenação como pastores/as), e fui nomeado para liderar o Corpo de Joinville-SC.
Como solteiro trabalhei nas cidades de Joinville-SC, Campos-RJ, São Gonçalo-RJ, São Paulo-SP, Brasília-DF e novamente São Paulo, onde em 1972 conheci uma tenente que trabalhava em Nova York e que viera visitar de surpresa seus pais, missionários finlandeses que trabalhavam no Brasil. (Procure no "Índice de todos os meus tópicos" o tópico Ritva Anneli Hämäläinen Franke)
Em 30 de setembro de 1973 casamo-nos no Corpo Central de São Paulo (noivas oficiais salvacionistas em todo o mundo não usam vestido de noiva, mas o uniforme no dia de seu casamento).
Por ter sido abolido no Brasil o uniforme branco, por razões econômicas o uniforme mais usado em tais ocasiões é o azul-marinho). Como casados trabalhamos em Curitiba-PR, Rio Grande-RS, Porto Alegre-RS, Lisboa (Portugal), São Paulo-SP, Perth Amboy-NJ , Fall River -MA USA - Jacutinga-MG, Åland (Finlândia), Pelotas-RS, Joinville-SC, São Paulo-SP, Helsinki, Vasa e atualmente Hämeenlinna (Finlândia)
Um poster que muito me inspirou e motivou ao decidir ser oficial do Exército de Deus.
E concluindo pergunto ao amigo leitor: Com vai a sua vida com Deus? Quem sabe a foto acima é a experiência atual de alguns. O mais importante na foto, porém, não é a situação deplorável mas o nome do barco: Try Again, cuja tradução é Tente Novamente, pois... ainda há tempo, irmãos!
"Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos, converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar."
Isaías 55:6-7
19 Comments:
Muuuuuuuito legal!!!
By saulo, at quarta-feira, maio 07, 2008 1:24:00 AM
Oi Major,
Já conhecia seu testemunho verbalmente mas relê-lo aqui de forma estruturada e cheia de fotos e comentários é de dar calafrios (daqueles positivos).
O filme "On the beach" também é muito especial para mim mas nem chega aos pés da sua história.
Abs,
Tiago
By Anônimo, at quarta-feira, maio 07, 2008 11:00:00 AM
Parabéns colega Paulo!
Você sempre consegue me comover. Ver minha foto ao seu lado e dos nossos colegas me pergunto:- "o que fiz da minha vida?"
Você é uma grande referência prá mim, me orgulho de ser sua amiga.
Iara Mattos
(ainda Pregoeira, disso não abro mão)
By Yara, at quinta-feira, maio 15, 2008 3:21:00 AM
Esta ocorendo quase a mesma citua ção comigo e eu não sei o que fazer? meu email e hanoway12@gmail.com
By Anônimo, at quarta-feira, outubro 15, 2008 3:20:00 PM
Vez ou outra dou uma espiadinha em seu blog, hoje li o seu relato de quando entrou para o Exército da Salvação...confesso fiquei muito emocionada!
By LUCIA, at sexta-feira, janeiro 02, 2009 11:31:00 PM
Oi Franke.No meio da noite resolvi atender a sugestão da minha filha Carolina e acessei teu Blog: fiquei até às 4:h !!!. Foi muito legal recordar com as fotos e saborear tuas inspiradas citações. Forte abraço. Francisco (chiquinho)S.Gonçalo.
By Anônimo, at domingo, março 15, 2009 8:52:00 AM
Ops!! meu e.mail: chicosvf@yahoo.com.br
By Anônimo, at domingo, março 15, 2009 8:54:00 AM
Paulo,eu quase todos os dias,leio um dos teus blogs,e rolando pra lá e pra cá,encotrei o teu testemunho,que benção relembrar que por tantas vezes,fui abençoda oferecendo o Brado de Gerra, em restaurantes e bares inclusive em Pelotas meu primeiro lugar de trabalho quando do meu comissionamento,saber que era usada por Deus para a transmissão do evangelho.Coinsidencia ou não também me casei no dia 30 de setembro de 1978,quem oficiou foi o major hofer(na época).O túnel do tempo está cada vez maior.
By lucy, at sexta-feira, fevereiro 25, 2011 7:37:00 PM
ola major sou salvaçionista do corpo de rio grande rs estava eu procurando o endereço do corpo de pelotas e apareceu seu blog no começo ate nao ia ler mais pensei se entrou aqui e por que DEUS quis começei a ler e reamente li coisas que eu prescizava escutar e realmente prescizamos nos entregar a Deus completamente que Deus continue abençoando sua vida ...a e o primeiro corpo que eu conheci foi de joinvile sc
By patrick tavares ribeiro, at sábado, abril 02, 2011 12:22:00 AM
oi Paul, boa noite. sou obreiro da Assembleia de Deus e ex militar. li uma revista do exercito da salvação, em um hospital. e senti algo diferente em mim. desde então comecei a investigar este exercito história missões e etc... até chegar em teu blog, quero conhecer muito mais...
e até mesmo saber como faço para entrar p este exercito...
otavioazeredolima111188@gmail.com
By tavinho, at quinta-feira, junho 16, 2011 2:11:00 AM
Voce é um evangelista nato!Como Deus te comissionou para semear Sua palavra! Foi mui inspirador ver essas fotos antigas,sua da Doreen e Sidney Campos! Quanta saudade!
By Anônimo, at sábado, março 08, 2014 2:45:00 PM
Paulo Franke,testemunho inspirador e desafiador! Eu me lembro nos idos de 1965 ou 1966 em Suzano, acampamento Vale de Bençãos, quando o conheci; Você, Santos Filho e o Flechou ( se é esse o nome. Seu testemunho de um jovem decidido a entregar a vida ao trabalho de semear a palavra me marcou muito!Vc é um testemunho vivo da graça e misericordia de Deus! E sua viada e seu blog tem abençoado muita gente! Que o Senhor te ilumine e te guarde e faça resplandecer Sua luz sobre sua vida
Pedro Moulin Sobrinho
By Pedro Moulin, at sábado, março 08, 2014 2:51:00 PM
Como sempre "encantada "com sua reportagem.
Uma benção para nossas vidas !
Deus abençoe a ti e esposa Anneli
Eu os amo em Cristo
Mirian S Fonseca
By Mirian dos Santos Fonseca, at quinta-feira, julho 03, 2014 12:36:00 AM
eu e minha esposa frequentamos wm sao vicente por 3 anos e quando iamos ter um uniforme a igreja smiu e perdemos o contacto com cap. Luiz ate hj nosso sonho e servir no exercito
Somos pastores da assembleia mas queremos o exercito
se puder ajudenos hj temos 47 anos e muiiita vontade de servir ao proximo e assim tbm a Deus paz do senhor
By Anônimo, at quarta-feira, novembro 05, 2014 1:35:00 AM
Caro pastor...
Envie-me seu endereco de e-mail para conversarmos melhor, sim?
O meu...
www.paulofranke@hotmail.com
aBRaco,
PF
By paulofranke, at terça-feira, dezembro 01, 2015 5:18:00 PM
Maravilhoso testemunho! Muito Emocionada! Queria ter conhecido o ES quando jovem, mas, nunca ouvi falar! Que pena! Sem sombras de dúvidas, tb faria parte disso! Abraços Pastor/ Missionário Paulo.
By Dorca Lemes, at sexta-feira, julho 28, 2017 9:32:00 AM
pastor.aquiles@gmail.com
16981713514
Estamos agora com 51 anos e ainda queremos servir no Exercíto de Salvação
Moramos em Ribeirão Preto mas estamos disponivedi para servir em qualquer lugar e hora afinal é nosso sonho . Ajude-nos por favor quer estamos querendo gastar o final de nossas vidas serviço do próximo amém abraço
By Unknown, at quinta-feira, março 29, 2018 6:49:00 AM
Bom dia Paulo, agora são 07h50, eu não sabia que o seu primeiro local como servo de Deus foi em Joinville, lembro que você era um tenente bem jovem ainda e seus cultos juntamente com as canções que cantavas marcaram muito em minha vida, ainda hoje cantarolo algumas, rsrsrs.
Sua história de vida é bastante bonita. Parabéns pela sua fé inabalável...
João Maria Ferreira.
By João Maria Ferreira, at terça-feira, março 31, 2020 2:00:00 PM
Bom dia Paulo Franke!
Muito bonito o seu depoimento de como ingressou no Exército de Salvação.
Queria comentar sobre dois aspectos que chamaram atenção.
Como foi o teu encontro com a Anne Hamalainen, tua esposa:
Eu a conheci aqui em Pelotas, quando era aluno interno do Lar de Meninos e o pai dela o Diretor.
Isso quando aínda éramos criança.
Como o teu saudoso Pai, seu Darci Franke era um grande benfeitor do nosso Colégio, poderias também a conhecê-la naquela época.
Mas quiz o destino e a mão de Deus, que fosse diferente e só a conhecestes na fase adulto, quando assumiram compromisso sério.
O segundo assunto é sobre o acampamento de jovens que participastes em Suzano em 1965.
Conforme o comentário do Senhor Pedro Moulin teve a presença do "FLECHOU", que na verdade deve ser do meu amigo e colega de escola:
José Augusto Sias Frechou...
Lembras dele?
Mais uma vez meus cumprimentos e desejo saúde e felicidades, juntamente com a esposa Anne e toda a família, com as bençãos celestiais.
Abraços daqui da distante Pelotas,
Sul do Rio Grande do Sul, Brasil.
By jmvr, at domingo, abril 05, 2020 8:17:00 AM
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