AMAZING GRACE influenciou o fim do tráfico de escravos.
Quero simplesmente divulgar um filme a que assisti há pouco tempo: AMAZING GRACE, nome de um hino que cantamos em nossas igrejas com frequência e que se tornou quase um hino oficial, obrigatório em grandes eventos nos países de língua inglesa, principalmente nos ligados à liberdade ou aos direitos humanos. Talvez o leitor não o reconheça pelo nome, mas se ouvir seus acordes iniciais poderá continuar a cantarolá-lo ou mesmo assobiá-lo.
Assim como "Navio Negreiro", de Castro Alves, o poeta dos escravos - cuja última linha diz: "Colombo, fecha a porta dos teus mares!" - inspirou as causas abolicionistas no Brasil, "Amazing Grace" influenciou a lei britânica que aboliu o tráfico de escravos.
Em finlandês, na capa do DVD: "Raras pessoas mudaram o mundo; William Wilberforce foi uma dessas raras pessoas."
Uma descrição do filme:
Amazing Grace! -William Wilberforce (1759-1833) e o movimento abolicionista.
A abolição da escravatura trilhou um caminho mais longo do que comumente pensamos. A história começou na Inglaterra, muito antes da conhecida lei inglesa Bill Aberdeen (1845) ou da nossa Lei Áurea (1888).
Outro defensor ferrenho da abolição cuja história é digna de nota foi John Newton, clérigo da Igreja Anglicana que, antes de sua conversão, havia sido capitão de navios negreiros. Após seu navio atravessar uma grande tormenta, na qual ele acreditava todos pereceriam, em 10 de maio de 1748, Newton converteu-se ao cristianismo, tornando-se um dos maiores defensores da abolição. As suas apaixonadas pregações em St. Mary Woolnoth, em Londres, conquistaram diversos simpatizantes, entre eles William Wilberforce.
O filme "Amazing Grace" (Inglaterra, EUA 2006), cujo título em português é "Jornada pela Liberdade", narra a vida e a luta de William Wilberforce pela abolição da escravatura.
O enfoque dado pelo diretor Michel Apted (Nell) ao conflito entre a política e o desejo de servir a Deus, vivido por Wilberforce, deu um tom muito humano ao enredo. O filme não cai numa visão previsível e sentimentalista da realidade, porém mostra claramente a frustração vivida por Wilberforce até atingir seus objetivos.
O primeiro projeto de lei para a abolição da escravatura proposto por Wilberforce foi apresentado em 1791. Apesar do apoio de William Pitt, Primeiro Ministro e amigo pessoal de Wilberforce, seus esforços no sentido de abolir a escravidão foram frustrados continuamente pelos interesses financeiros dos seus colegas de Parlamento.
Nessa fase de frustração, com a saúde abalada, Wilberforce conhece e se casa com Barbara Spooner, que compartilha de seus ideais e dá o apoio que ele necessita para prosseguir a luta que culmina na aprovação da lei contra o tráfico de escravos, na Câmara dos Lordes, em 25 março de 1807. Wilberforce vive ainda tempo suficiente para ver a abolição em todo o Império Britânico ser aprovada no Parlamento no dia 26 de julho de 1833. Ele faleceu poucos dias depois, em 29 de julho de 1833.
A excelente atuação do ator galês Ioan Gruffudd (no papel de Wilberforce), mais conhecido atualmente como Sr. Fantástico, dos filmes do Quarteto Fantástico, junta-se também às de Albert Finney (no papel de John Newton), do excelente Peixe Grande; à de Benedict Cumberbatch (no papel de William Pitt) e à de Rufus Sewell, que atuou em O Ilusionista, O Amor não Sai de Férias, bem como em Tristão e Isolda (no papel de Thomas Clarkson).
Finney interpreta o pastor anglicano John Newton, o verdadeiro compositor do hino "Amazing Grace". Newton foi mostrado no filme de maneira um pouco irreal, distante do homem culto que foi, assim como mentor espiritual e intelectual de Wilberforce.
Meticulosamente bem estruturado e narrado, o filme tem excelente reconstrução de figurino; e as cenas do bucólico interior da Inglaterra, bem como de Bath, com sua água sulfurosa, são muito realísticas, além de agradáveis.
Em resenha oferecida pela revista Veja, um crítico brasileiro esposa a opinião, muito oportuna ao nosso contexto, de que "o que há de mais inteligente e atual em Jornada pela Liberdade é a defesa que o filme faz da política como uma arena não apenas possível, mas ideal, para o exercício da ética".
"Amazing Grace" tem a sensibilidade de não exibir os horrores pelos quais os escravos eram submetidos. Em vez disso, numa decisão inteligente, deixa que os espectadores descubram isso da mesma maneira como o faria uma pessoa comum do século XIX: ouvindo testemunhos orais e, com a providencial ajuda de abolicionistas, visitando o inferno flutuante que era um navio negreiro vazio, ancorado no Tâmisa. A única seqüência que mostra as condições dos escravos é um pesadelo de Wilberforce.
O filme foi vencedor do Christopher Awards, espécie de prêmio politicamente correto do cinema norte-americano, destinado a “reconhecer produções que reafirmam os mais elevados valores do espírito humano”. (Google)
John Newton - 1725 - 1807
John Newton, o autor de "Amazing Grace", nasceu em 1725 em Wapping, Londres. Ainda que sua mãe fosse uma cristã fervorosa, as conviccões religiosas de Newton tornaram-se muito precárias, tornando sua juventude marcada por confusão religiosa e falta de controle moral e de disciplina.
Depois de um curto tempo na Marinha Real, Newton começou sua carreira no tráfico de escravos. Sua transformação espiritual aconteceu durante uma tempestade que ocorreu nas horas da noite em alto-mar. A situação agravou-se tanto que mais tarde ele comentou que durante o tumulto no mar ele reconheceu a sua fragilidade e concluiu que somente a graça de Deus poderia salvá-lo. A leitura do livro de Thomas à Kempis, Imitação de Cristo, ajudou-o a tomar os primeiros passos em direcão à fé.
Esse incidente e o seu casamento com Mary Catlett, em 1750, mudaram Newton de uma forma significativa, que agora encorajava os seus marinheiros a orarem e a tratarem com bondade e gentileza a sua carga humana. No entanto, 40 anos ainda transcorreriam até John Newton desafiar abertamente o tráfico de escravos.
Três anos após o seu casamento, Newton sofreu um derrame que o impediu de voltar ao mar, o que considerou um outro passo à sua viagem espiritual. Nesse tempo sentiu fortemente o chamado de Deus para tornar-se um ministro anglicano. Seu poema, escrito como pregação para o Ano-Novo de 1773, baseava-se na sua conversão ocorrida durante a tempestade.
"Amazing Grace" foi primeiramente gravado em 1922. Um pouco antes disso, tornou-se popular entre grupos de imigrantes nos Estados Unidos e entre americanos de origem africana, inclusive muitos pregadores-cantores. No avivamento de 1960, juntamente com outros hinos tradicionais, "Amazing Grace" foi relembrado e a partir daí permanecido como um dos mais populares hinos evangélicos.
Possuo um disquinho-raridade de Amazing Grace, pela The Pipes and Drums and the Military Band of the Royal Scots Dragoon Guards (1972), que serviu de playback para o hino durante apresentações do meu Gospel Choir.
Abaixo transcrevo a letra de "Amazing Grace" tanto no original inglês quanto em português, conforme o hinário do Exército de Salvação.
Amazing grace, how sweet the sound that saved a wretch like me!/ I once was lost, but now I am found, was blind but now I see.
'Twas grace that thaught my heart to fear, and grace my fears relieved; /how precious did that grace appear the hour I first believed!
Through many dangers, toils and snares I already come; / 'tis grace hath brought me safe thus far and grace will lead me home.
When we've been there ten thousand years, bright shining as the sun/ We've no less days to sing God's praise than when we first begun.
_______________
Que surpreendente graça é a graça de Jesus!/ eu cego fui, perdido, vil, mas dela veio a luz.
Tal graça me levou o temor, assim que em Deus eu cri, / Me fez feliz, me transformou, eu nunca a mereci!
Por provas duras passarei na peregrinação,/ mas pela graça irei morar na eternal mansão.
E, estando nesse Lar, no além, em meio à luz sem par, / a eternidade usarei pra Deus, o Pai, louvar.
L i n k
Como me fez bem relembrar alguns lances da história do Brasil, através do Google, com destaque à vida do grande Castro Alves e o seu poema "Navio Negreiro"! Pablo Neruda reverenciou o poeta baiano "por ter cantado àqueles que não tinham voz: os escravos."
Aconselho ao leitor:
- Procurar o filme "Jornada pela Liberdade" em uma locadora.
- Procurar o "Amazing Grace" no http://www.youtube.com/
- Relembrar lances da história do Brasil, em especial a abolição da escravatura, inclusive ler na íntegra o poema "Navio Negreiro" (Google).
4 Comments:
Ótimas dicas, Paulo. Também quero recomendar o blog do meu amigo Fabiani Medeiros(agora Fabiano)que trata dos assuntos relacionados à graça. www.gracasoberana.wordpress.com
Forte abraço
By Família Amaral, at quarta-feira, novembro 11, 2009 2:44:00 PM
Caro senhor Paulo, mais uma vez tenho que reverenciar sua capacidade de nos ensinar!
A história do Brasil, mesmo que sofrida, e feia em alguns momentos, é rica em luta por ética e liberdade! Somos algo ainda por se descobrir e concluir por que temos uma imensidão de laços étnicos.
O hino me é muito conhecido justamente por causa dos diversos filmes by Hollywood que assisti! Mesmo antes de conhecer a letra, achava a melodia muito envolvente e acolhedora por isso, tenho certeza que o filme é maravilhoso como muitas autobiografias já vistas, no entanto essa deve ser especial, pois trata de um assunto que marca até os dias de hoje qualquer país vitimado. São dores realmente muito profundas! Dores essas que nosso querido Castro Alves soube tão bem narrar, desenhar aos nossos olhos!
...”Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
O Navio Negreiro (Tragédia no mar)
Muito boa sua indicação, tanto do filme quanto do poeta. Mais uma vez ler seu Blog foi revigorante devido ao seu entusiasmo em nos ensinar e alertar. O senhor é um cidadão muito atento e divide conosco essa atitude!
Parabéns por mais este post!!! Obrigada por se importar!
Um abraço amigo,
Maria.
By Anônimo, at quinta-feira, novembro 12, 2009 6:52:00 PM
Fiquei bem interessada em ver o filme
"Amazing Grace" (Inglaterra, EUA 2006), eu ainda não ví. e pelas suas palavras me deu uma grande vontade.
Gosto de tudo que fale de liberdade e de amor e respeito a si mesmo, assim como o filme KATYN, que desperta uma emoção muito grande, e por saber que histórias assim são verídicas e devem ser propagadas.
beijos, e obrigada pela dica.
By siby13, at sexta-feira, novembro 20, 2009 12:55:00 AM
Fui muito edificado, ao ler esta abençoada peça, com as informações trazidas. Obrigado, caro amigo Franke!
By Bispo Calegari, at segunda-feira, setembro 26, 2016 11:34:00 PM
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