Gaúcho...Fases de minha vida "rural", em Minas e na Finlândia.

Sempre me denominei "um homem do asfalto".

Outro dia, porém, precisando ir muito cedo ao laboratório fazer exame de sangue, atravessei um pedaço da floresta onde vivemos, cortando caminho até o hospital, que fica no nosso bairro. Escuro ainda, percebi pegadas de animais e fotografei-as. E pensei... "onde foi parar, na aposentadoria, este homem do asfalto!" No momento, o asfalto é branco...

Em outra ocasião, nesta mesma semana, gostei de ver este tronco da árvore mais comum da Finlândia depois do pinheiro... conforme o idioma, bétula (português), koivo (finlandês), björk (sueco) e birtch (inglês).

 Raízes, me vieram à mente, e dai surgiu esta postagem...

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Foi a vez de juntar fotos e lembranças de tudo o que dissesse respeito ao tema desta postagem... minhas experiências rurais, "lá de fora", do country side ou, conforme a região do Brasil, lá da roça, do sítio ou mesmo da fazenda. 
E teria este "homem do asfalto" - que nas primeiras décadas da vida não ouvia música sertaneja ou gauchesca  mas só Pat Boone, Elvis Presley e rock'n roll - matéria para encher esta postagem voltada à vida rural ou campestre?

Com uma tia na foto, eu e três irmãos visitando um lugar onde meus padrinhos tinham um sítio com plantação de eucalíptos a perder de vista. Ir com minha família visitar o sítio era uma experiência divertida. Porém, quando meus pais  viajaram e "distribuíram" os filhos para ficar com cada padrinho durante sua ausência, aconteceu algo, além da saudade que senti deles e dos irmãos... Pena que na foto danificada minha irmã ficou com problema no olho esquerdo...

... mas quem poderia ter ficado cego fui eu. Brincando entre as fileiras intermináveis de eucalíptos, de repente não percebi que havia arame farpado dividindo-os e "dei com todo o meu rosto" na cerca, por pouco não atingindo os olhos. No sítio, longe da cidade, meus padrinhos aplicaram-me remédio caseiro - talvez sal? - e não pude receber nenhum ponto, o que nem era tão comum naquele final dos anos 40. A cicatriz que, quando menino cobria boa parte do meu rosto, hoje em dia ainda está lá, menor e disfarçada "pela idade". É uma das primeiras lembranças campestres que tenho, por sinal daquelas que deixaram... marcas.

Outras lembranças são dos veraneios no hoje "Recanto dos Coswig", que meu pai  fazia com a família nas férias (na foto, minha mãe, eu e meus quatro irmãos), no início dos anos 50. Banhos em água do rio que corria entre pedras era o nosso principal divertimento, mas havia as brincadeiras com amigos do hotel, a boa comida "da colônia", andar de carroça dos colonos alemães que eram divertimentos tipicamente rurais, tudo documentado nos filmes do meu pai, um cinegrafista amador.

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Dando um pulo no "tempo e no vento", com uma tia-avó e minha irmã, encenando um momento gaúcho no pátio de nossa casa, para impressionar o meu pastor, à esquerda. Ele e a tia já no "rincão celestial".

Diz a música gaúcha, "Rio Grande do Sul, vou chorar ao partir!"... E em 1964  ingressei no seminário do Exército de Salvação em São Paulo, e em uma reunião especial a criativa esposa do diretor, Mary Eliasen, atrás na foto, "empurrou-me" à tarefa de vestir-me de gaúcho para saudar um visitante internacional, cantando uma canção gauchesca. Era largar a vergonha - ou deixar de ser "chucro" como diria o gaúcho - e ir em frente no meio da grande audiência.

A saudade dos "pagos", por outro lado - a nível diário naquele primeiro ano -  era curtida e sofrida no meu quarto do seminário, ainda bem que individual. Vê-se pela simples decoração que o Rio Grande do Sul era algo bem presente.

"Dizem que gaúcho não chora, que tem duro o coração... fale dos pagos distantes, vê se não chora, não!"

Ainda bem que existiam férias, que só tinham um destino a cada verão:

Pelotas,  Rio Grande do Sul!

 E lá era convidado algumas vezes por primos para visitar seus sítios e fazendas. Desajeitado, nunca cavalguei, e mesmo que tentasse não era "gaúcho o suficiente" para fazê-lo com destreza. Por exemplo, quando na foto a cores os queridos primos ofereceram-me para cavalgar, aceitei... mas devo ter feito algo com as rédeas e o cavalo disparou em grande velocidade... Até hoje acho que anjos me protegeram, pois de repente fiz alguma coisa, do que não me lembro absolutamente, e o cavalo parou bruscamente!! Uff, como Deus é bom, pensando em outros livramentos na vida, não necessariamente sobre cavalos! 

Alguns parentes gostarão de ver o primo, na foto abaixo, já na "querência celestial".

Enquanto eu tinha minhas raras experiências campestres, alguém, no norte do mundo - que eu ainda não tivera o prazer de conhecer - tinha as suas próprias e raras, como nesta foto em que Anneli dava uma de trabalhadora na fazenda de uma tia sua por parte de mãe.

Uma cena campesina em Campos-RJ. 

 Siesta em Alegrete-RS, depois de um churrasco, hábito - de no máximo 20min - de muitas décadas que não dispenso.

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Casamento... filhos... certa vez passamos o Natal de 1981 em Kinross-Michigan, o primeiro Natal "típico", quando meu cunhado evangelista e sua linda família lá viviam, em um lugar no country side quase fronteira com o Canadá. Inverno rigoroso e com muita neve...

... fui introduzido "à lenha", isto é, ajudar a cortá-la e depois carregá-la para dentro de casa para aquecer a lareira.

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"Homem do asfalto?"... sim,

 trabalhei em diversas capitais brasileiras, em cidades grandes e pequenas, no Distrito Federal inclusive, mas... 

... em 1985/6, depois de trabalharmos nos Estados Unidos, em New Jersey e Massachusetts, "chutados", ou melhor dizendo, fomos nomeados para uma experiência tipicamente rural: dirigir um orfanato nas montanhas de Jacutinga, no sul de Minas Gerais. Foi chegar e trabalhar duro para transformar o lugar praticamente abandonado em um lugar tão bonito e bem cuidado que deixava os habitantes da pequena cidade  boquiabertos.

Enquanto Anneli, com um grupo de meninas "atacava" o interior do Lar, eu com outro grupo delas, com enxada e pás, "atacava" o seu exterior inclusive decorando o belo lugar com objetos campestres e tinta para pintar floreiras em cada janela.

Trabalhamos duramente para fazer o Lar condizer com a beleza da cidade. Mas também descansávamos, principalmente admirando as montanhas mineiras a perderem-se de vista, experiência única na vida para mim.

Foram dois anos muito especiais para nosso filho Aaron...

... que virou um "cowboizinho"! 

Muito bom ter vivido pela primeira - e última vez - em uma bela e confortável casa pré-fabricada de madeira! Minha filha Martta até hoje lembra-se de Jacutinga como o lugar mais feliz de sua adolescência e sonha em voltar para rever amigos que até hoje vivem por lá.

A poliglota Anneli espalhando café recebido de doação. Reparem a beleza das montanhas ao fundo... um tanto parecidas com as do filme "Noviça Rebelde"... Noviços não éramos... rebelde, no sentido de ser um anticonvencional eu era, um tanto... quem me conhece sabe.

Que saudade das visitas do meu saudoso sogro que, inclusive, quando veio para o Brasil, em 1953, foi nomeado exatamente para Jacutinga-MG!

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Quando sentimos o chamado de Deus, forte e individual, para a Finlândia,com a negação do líder do ES e com portas abertas, não hesitamos e viemos... viver no interior da ilha de Åland, província autônoma finlandesa de língua sueca (ver link "A maior aventura de Fé de PF").

De um lugar rural a outro... O Senhor nos deu para morar uma casa em um bairro rural de Jomala, à frente de nossa casa com uma floresta e ao fundo com uma imensa plantação. Sem prática de jardinagem, um dia eu quis "plantar flores" no grande canteiro em que parecia nada haver, sem saber que na primavera simplesmente tulipas nasciam por si só (foto). O velho arado era para lembrar de não olhar para trás... Deus, de fato, quando quer trabalhar nos Seus filhos, leva-os para o deserto (ou para as montanhas ou para uma ilha, como aconteceu conosco).

Meu "trator" era um velho Morris, e como nos serviu! Mesmo no inverno rigoroso pegava simplesmente ao girar a chave de ignição... enquanto muitos carros modernos de amigos precisavam ter um cabo ligado à tomada durante a noite para manter o motor aquecido.

Com minha filha Deborah, dois gaúchos de poncho, mas eu com chapéu de russo.

Uma grande lareira na casa ajudava a diminuir a conta de eletricidade, mas, por outro lado...

... precisava ser alimentada com lenha, muita lenha, que para ser cortada havia bons irmãos na fé que nos ajudavam com sua serra elétrica. Era a provisão do Senhor, não só no sentido da serra elétrica mas também de irmãos que nos ajudaram de muitas formas práticas.

Em uma das últimas vezes que meu sogro veio à sua terra natal, visitou-nos em Åland. Na foto acima minha sogra, criada em uma fazenda da Carélia e que hoje vive na capital Helsinki... sempre ocupada em alguma coisa, limpa uns galhos de "kataja". Recordo-me do que ela me falou na exata ocasião... "Esta planta, costuma-se dizer,  é como os finlandeses... podem dobrá-los, mas  nunca se quebram".
Grande ilustração para todos nós... Sejamos "katajat"!

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E HOJE??

Temos um conjunto de louça com motivo gaúcho, comprado em Minas Gerais, mas no guarda-louça, intocável... Nossas duas filhas gaúchas já nos pediram, mas quando Anneli ofereceu metade para cada uma (há mais pratos do que mostra a foto), desistiram por querer o conjunto completo. Fazer o quê?

A cuia do chimarrão, sem uso nem erva, é sim acervo do armário de souvenirs somente. Este gaúcho não toma chimarrão, sorry...

A faca típica gaúcha, com belo cabo, também está no armário somente de enfeite. Não gosto da carne do gado finlandês que, por ser confinado durante o rigoroso inverno, assume um gosto diferente da carne brasileira, portanto não tão saborosa na minha opinião.

Um tapetinho de couro comprado no RS recentemente serve-me muito do meu lado da cama.

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E o homem que se chamava "do asfalto", escolheu para viver na sua aposentadoria em uma floresta, vendo árvores por todos os lados do prédio.

A 3km somente do centro da cidade de Hämeenlinna (que quer dizer "castelo de Häme), temos a vantagem de bom meio de transporte, que chega na hora exata, conforme anunciado, e a cada 15min, com intervalos um pouco maiores nos finais de semana.

Enquanto esperava o ônibus para ir ao centro da cidade, simplesmente fotografei as árvores da "nossa floresta", foto que muitos amigos do Facebook elogiaram.

Das grandes janelas do nosso apartamento, ver tratores - nunca dirigi um! - ou caminhões carregando neve é uma constante, afinal, vivemos na floresta, na zona rural por assim dizer, mas com uma diferença: a 3km do centro da cidade, como já mencionei, a 100km da capital do país, Helsinki, onde moram nossas duas filhas casadas e, importante também, a 90km do aeroporto internacional de Vanta, o que significa morar no country side e ter perto... muitos "countries" para visitar!

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The last but not the least

1

"Gaúcha sou, nasci feliz, eu nasci no Rio Grande do Sul do meu país!"
Dos 7 netos, a única gaúcha, hoje uma bela jovem de 16 anos que vive na Finlândia.

2

Mudando-se esta semana da praia do Laranjal, na Laguna dos Patos, minha sobrinha fecha um "ciclo familiar" (foto dela). Veraneávamos no final dos anos 40 e início dos 50 em barracas, com a devida permissão por escrito do dono das terras - hoje Balneário dos Prazeres - Doutor Ferreirinha.

Nostalgia...

3

Um postal antigo de Gramado-RS.

4

De um livro sobre judaismo, na foto acima, judeus-gaúchos na Argentina. Na foto abaixo, judeus da Colonia Quatro Irmãos, no Rio Grande do Sul (1909), assentamento agrícola que durou por um tempo.  Ambas fotos provam que a experiência mostrou-se benéfica no sentido de absorção de imigrantes.

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R E C O M E N D O:
1
O artigo TRIBULUM
(tecnicas agrícolas dos tempos bíblicos trazendo enorme bêncão para a sua vida hoje)
http://www.paulofranke.blogspot.fi/2013/01/tribulum-sabe-o-que-e-isso-nao-entao.html

2
Filme "O Fazendeiro de Deus" (assista ao "treiler")
https://www.youtube.com/watch?v=ObUNO3muCwg

3
Antiquário Campestre (para lembrar coisas antigas lá do sítio)
Com dois bons comentários do gaúcho-alegretense Alexandre Lopes, recentemente transferido para o "rincão celestial")
http://paulofranke.blogspot.fi/2009/06/antiquario-campestre-velharias-que-dao.html

4
Poemas gaúchos...
http://paulofranke.blogspot.fi/2006/10/poemas-s-comunidades-de-viagens.html

5
Do livro "Edificacão Diária", meditacões "rurais"...
para o Dia do Campo (Maio 10); Dia do Protetor da Floresta (Julho 17); Dia do Agricultor (Julho 28); Dia da Árvore (Setembro 21); Dia da Natureza (Outubro 4); Dia da Pecuária (Outubro 14):
www.paulofranke-edificacaodiária.blogspot.com

6
L i n k s:
Jacutinga-MG

- Primeira parte: de Nova York ao sul de Minas Gerais

- Segunda parte: Paisagens Privilegiadas X Dramas Infantis

Åland
http://paulofranke.blogspot.fi/2011/01/maior-aventura-de-fe-de-paulo-franke.html

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Próxima Postagem neste Blog:

"Você se lembra da novela 'A Idade do Lobo", da TV Tupi?

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