Paulo Franke

23 novembro, 2010

Holocausto: SCHINDLERS japoneses!

_______________________________________


"Pensava que já tínhamos descoberto tudo sobre o horror do Holocausto", diz Nissim Ben Shitrit, embaixador de Israel no Japão. "E, apesar disso, há mais a ser revelado."

Uma série de fotos antigas está jogando nova luz sobre a história de Chiune Sugihara,um diplomata japonês na Lituânia que salvou milhares de judeus da perseguição nazista no início da Segunda Guerra Mundial. Encontradas em um velho diário de Tatsuo Osako, um jovem que trabalhava no escritório de turismo do Japão na época do conflito, as fotos são um raro registro dos refugiados que, graças à coragem de Sugihara e à ajuda de Osako, escaparam do Holocausto. As estimativas são de que o diplomata japonês emitiu mais de 6 mil vistos que permitiram os judeus saírem da Europa antes de serem capturados.

Trabalho conjunto garantiu sucesso

Junto com Jan Zwartendijk, cônsul holandês da Lituânia, Sugihara trabalhou sem trégua para dar vistos de viagem a judeus antes de ser expulso do país em agosto de 1940, quando a Rússia anexou a Lituânia. Segundo relatos de sua partida, ele continuou a passar documentos em branco para os refugiados mesmo enquanto seu trem deixava a estação.

Sugihara contrariava as ordens de seu governo de que os viajantes deveriam ter fundos para financiar sua estada no Japão e a saída para um destino depois de chegarem ao país para receberem os vistos. E Osako, há apenas dois anos no emprego, era o responsável por escoltá-los nos barcos que os levavam às ilhas japonesas, desembarcando nos portos de Kobe e Yokohama para depois seguirem viagem para outros países.

Em 1940, o escritório de turismo do Japão havia concordado em ajudar judeus americanos a distribuir dinheiro aos refugiados europeus, o que permitiu a eles cumprirem a determinação de ter condições de se manterem no país e comprar passagens para deixá-lo. A decisão tinha o apoio do Ministério do Exterior japonês e foi tomada apesar da forte ligação entre os governos da Alemanha e do Japão da época.

Sugihara tem sido elogiado através do mundo e é muito estimado, mas suas ações contaram com a ajuda de várias pessoas que trabalharam sem serem vistas, à sua sombra, conta Akira Kitade, a quem foram repassadas as 30 fotos que sobreviventes deram a Osako, com dedicatórias. Kitade, que trabalha para o Museu de Memória do Holocausto dos EUA, em Washington, planeja escrever um livro sobre Osako para que também suas experiências se tornem conhecidas, e busca ajuda de especialistas americanos e israelenses para encontrar algum dos refugiados ou seus descendentes.

As línguas das mensagens nas fotos dos judeus dadas a Osako refletem o avanço nazista pela Europa: alemão, polonês, norueguês e francês. Foi há 70 anos, então muitas dessas pessoas nas fotos já não devem estar vivas. Há um esforço de encontrar suas famílias e mostrar as fotos a elas.

Os historiadores têm várias teorias sobre o porquê do Japão ter permitido aos judeus passarem pelo país na sua fuga da Europa ou se estabelecerem na Manchúria. Segundo alguns, as razões eram puramente humanitárias, mas outros acreditam que o Japão buscava cidadãos educados para ocupar seus territórios recém-conquistados ou obter favores dos EUA nos anos antes dos dois países entrarem em guerra também.

Em 1938, quando a perseguição aos judeus se acirrou, o governo japonês emitiu comunicado informando que trataria os refugiados humanitariamente. Ao mesmo tempo, no entanto, o Japão massacrava e escravizava milhares de pessoas por toda a Ásia, ações pelas quais líderes japoneses do pós-guerra já se desculparam seguidamente.

Mie Kunimoto, filha de Osako (na foto ao lado com uma judia que ele ajudou a salvar a bordo de um navio) ficou surpresa ao saber das fotos dadas a seu pai, que morreu em 2003. - Nunca ouvi falar disso, nem minha irmã! Ele não era o tipo de pessoa que falava sobre o passado. Como muitos japoneses de sua geração, Osako pouco conversava sobre suas experiências durante a guerra, embora tenha escrito breve relato em 1995 para uma publicação de ex-alunos de sua faculdade. "Os judeus que vi na época não tinham passaporte nem pátria. Eles eram refugiados que saíram da Europa e geralmente estavam tristes, alguns com olhos vazios que refletiam a solidão das pessoas no exílio", relatou.




Fonte: Artigo extraído do caderno História de O GLOBO de 23 de outubro de 2010. Ao lê-lo, uma fiel leitora de meu blog pensou que seria um tipo de postagem que se adequaria às minhas. Para isso, enviou-me a página pelos correios. Aqui vai o meu agradecimento a ela. Aos leitores que queiram saber mais a respeito desses heróis, artigos semelhantes e até com mais detalhes podem ser encontrados no Google.



Mapa da Lituânia, o único país báltico que me falta conhecer.


A história de Sugihara foi contada no curta-metragem - não um documentário - intitulado Visas and Virtue (Vistos e Virtude), vencedor do Oscar da categoria em 1997.

______________________

.
Sugihara foi homenageado no Museu do Holocausto Yad Vachem, em Jerusalém. Se tivesse conhecido sua história antes de o ter visitado, no início deste ano (ver postagem respectiva), certamente teria fotografado a árvore que leva o seu nome no jardim "Justos entre as Nações".
.

4 Comments:

Postar um comentário

<< Home