Paulo Franke

17 novembro, 2010

Cantando Chopin e Beethoven no Campo de Prisioneiras

Itálico
Em 1998, em São Paulo, como editor do jornal salvacionista "Brado de Guerra - contra todo o mal" (hoje revista RUMO), chegou-nos da Holanda o exemplar do Strijdkreet com um artigo que desejei muito publicar. Nossa voluntária Carla Wilderboer concordou em traduzi-lo para que muitos leitores fossem edificados com a tocante história. É meu prazer publicá-la 12 anos depois, com o mesmo intuito: a bênção e inspiração dos meus caros leitores - não mais do meu jornal mas do meu blog - tenham ou não assistido ao filme

CANTANDO PARA SOBREVIVER

Helen Colijn escreveu um livro sobre mulheres que durante a Segunda Guerra Mundial cantaram para manter o ânimo enquanto prisioneiras em um campo japonês. O Coral de Haarlem Malle Babbe, da Holanda, lançou um CD com as músicas que cantavam e Bruce Beresford ganhou um Oscar da Academia de Cinema de Hollywood pelo seu filme Paradise Road (Um Canto de Esperança).


Fabricado por Sony Music Manaus Ind. e Com. Ltda.
Presente do meu filho, comprado no Brasil .

Os pais de Helen moravam em Java, Indonésia; seu pai trabalhava na Shell. No seu último ano escolar, Helen morou na Holanda com o seu avô, conhecido primeiro-ministro Colijn. Na hora da refeição costumavam ler a Bíblia e um livro devocional, orando após, momento sagrado a cada manhã.

Após os estudos, Helen foi com sua irmã Antoinette em férias para a Indonésia e o plano era, três meses depois, retornarem à Holanda. Foi quando a guerra irrompeu na Europa e em toda a Ásia.

Depois do ataque a Pearl Harbor, sua mãe foi parar em uma prisão na ilha de Tarakan. Seu pai escapou e foi ao encontro das filhas em Java. Juntos tentaram viajar para a Austrália, mas o navio em que viajavam foi bombardeado pelos japoneses e os que escaparam capturados. Seu pai não sobreviveu na prisão dos homens e as meninas ficaram presas junto com as mulheres.

No final de 1943, duas mulheres inglesas, Margaret Dryburgh e Norah Chambers, tiveram uma brilhante idéia. Margaret era uma missionária com muito talento musical e Norah uma dirigente de coral que havia estudado violino, piano e canto durante um ano na Academia Real de Música de Londres.



Apesar da fome terrível, das doenças e da crueldade dos japoneses, depois de um tempo, com muito cuidado no início, foi iniciado um coral. No campo, Margaret lembrava-se e escrevia a música em pequenos pedaços de papel quando os conseguia. O coral entoava as melodias clássicas de Beethoven, Dvorak e Chopin a quatro vozes. A força das melodias mudava a atmosfera não apenas para as prisioneiras, mas mesmo para os soldados japoneses.

Helen comentou: "Imagine-se em um campo de prisioneiros com fome, camundongos, baratas, com aquele cheiro terrível de banheiros e a gritaria dos guardas à sua volta! E de repente você ouve essa música. É algo magnífico que dá o sentido de união, mas também de força para continuar vivendo em uma situação que parece não ter fim. É algo positivo surgindo de uma experiência muito negativa. Por essa razão posso falar do campo sem ter que passar por todos os pesadelos novamente."

Anos mais tarde, o coral a vozes inspirou Helen a escrever um livro, no qual Bruce Bereford baseou o seu filme Paradise Road, que traduzido é "Estrada do Paraíso", mas que leva o nome "Um Canto de Esperança" em português. O espectador é movido pelo contraste entre a linda melodia e a situação de opressão e violência.

Trata-se de música nascida do desejo de por um momento esquecer-se da prisão imerecida, da fome, da diarréia, da malária e da preocupação constante com os familiares.


Margaret faleceu no dia 21 de abril de 1945 e foi sepultada em um cemitério perto do campo, sob as palmeiras. Mais tarde, Norah escreveu em seu diário: "Ela foi admitida no hospital e poderia ter melhorado, mas, como muitas outras pessoas, estava fraca demais e por isso não houve chance de recuperação. Ao visitá-la, ela me reconheceu e tentou falar. Tentou repetir o seu salmo preferido, o 23, o que eu fiz por ela tão bem quanto pude."

A sua fé em Deus, a segurança de que Ele estava ao seu lado e que tudo terminaria bem foram as motivações do seu trabalho. Ela queria mostrar para si mesma e para as outras pessoas um vislumbre do céu em uma situação de violência, no que obteve sucesso. A sua história trata da força da fé, a força que ajudou os sobreviventes do campo, anos depois, a perdoar os seus inimigos.

_______________________

Links

Trailer do filme:

http://www.metacafe.com/watch/4195407/paradise_road_movie_trailer/

Outra história ligada a Haarlem, Holanda

(Corrie ten Boom)

http://paulofranke.blogspot.com/2008/08/de-trem-pela-europa-9-haarlem-holanda.html

____________________________________

Próxima postagem:

O Schindler japonês, que salvou centenas de judeus.

____________________________

1 Comments:

  • Recordo-me de ter assistido em algum filme pessoas cantando dentro de um vagão em direção a campos de concentração ou algo assim, para morrer, faz tempo e não recordo exatamente como foi e qual filme foi, só lembro que era uma cena comovente.
    Abraço

    By Blogger João Guilherme, at domingo, novembro 28, 2010 4:46:00 AM  

Postar um comentário

<< Home