À Sombra Sinistra do Nazismo - I
Gilbert Abadie foi o chefe nacional de nossa obra dos anos de 1957 a 1965, período em que nossa obra conheceu um grande avanço. Tendo ingressado no ES em 1964, cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Abadie, sentado, aparece com sua esposa, à direita Bruno Behrendt e sua esposa, que o sucedeu na liderança da obra no Brasil, e também Carl Eliasen, o diretor do Colégio de Cadetes, que preparava oficiais; na sessão de 1964-1965 entre esses cadetes eu.
Tendo sido militar no exército francês durante a Segunda Guerra Mundial, Abadie foi feito prisioneiro dos alemães. Ele aproveitou esse tempo para testemunhar de sua fé cristã, meditar, celebrar cultos para os seus companheiros de infortúnio, estudar a Bíblia e aprender noções básicas do grego. Um dos seus escritos resumido sobre experiências como prisioneiro pode ser lido abaixo:
"Havia no campo um grupo de prisioneiros evangélicos, cerca de 150 homens. Deus havia colocado nos seus corações o desejo de ganhar seus companheiros de cativeiro para Cristo. O Natal era uma oportunidade de aumentar o círculo dessa congregação peculiar, onde não havia mulheres nem crianças. Naquele Natal de 1944, esses desventurados cristãos tomaram uma decisão que parecia sem sentido: cada um deles convidaria um camarada não-pertencente à fé evangélica e ofereceria minúsculos sanduíches e um copo de leite com chocolate. Jamais esquecerei esse encontro onde foi demonstrado o amor cristão pelos demais com o triunfo sobre o egoísmo. Quando os convidados saíram, uma estranha alegria, doce e agradável, reinou entre eles. Foi uma celebração natalina em que o próprio Cristo esteve presente."
Outras experiências de guerra deste servo de Deus serão postadas oportunamente.
Bruno Behrendt que já trabalhava como missionário no Brasil durante a guerra, contava-nos que sua mãe, salvacionista na Alemanha, em meio às privações inimagináveis, procurava cascas de batata para fazer sopa para os miseráveis. Na gestão de Behrendt, fui nomeado, em 1966, certamente pelo meu sobrenome alemão, para a cidade de Joinville-SC.
Gerben Stelstra, um oficial salvacionista holandês, recorda-se do Natal de 1945, em Lubeck, Alemanha, poucos meses após o fim da guerra.
"Comprimidos dentro de seus barracos, os refugiados não conseguiam aquecer-se e nada lembrava o Natal de outros tempos. No ar, o cheiro da iluminação a gas e de desinfetante. Amontoados, poloneses, iugoslávos, húngaros, russos; os escandinavos e os alemães procuravam qualquer enfeite para decorar o ambiente. Os luteranos descobriram um pequeno arbusto que escapara do fogo e o enfeitaram.
O lugar onde festejaríamos o Natal seria em um pequeno corpo salvacionista em Lubeck, milagrosamente ainda em pé, outrora um salão relevante, agora com as portas e janelas em pedaços ou faltando totalmente, pelas quais passava o frio intenso. Na plataforma, uma espécie de fanfarra composta por homens usando uniformes esquisitos da Wehrmacht, cujas insígnias haviam sido descosturadas, juntavam-se a salvacionistas britânicos e canadenses. No salão, prisioneiros de guerra, soldados das forças de ocupação e refugiados inacreditavelmente esfarrapados cantavam "Noite de paz, noite de amor", enquanto uma luz tênue de pobres velas iluminava de forma estranha os rostos sofridos daqueles homens e mulheres. Enquanto cantávamos o hino, trouxeram uma dezena de homens em cadeiras de rodas para o lugar reservado na frente do salão. A reunião prosseguia. Eu me exercitava constantemente na mensagem bíblica, pois serviria de intérprete simultâneo.
O momento crucial foi o fim da reunião, na hora em que se deu a oportunidade para pessoas virem à frente orar. Ali, miraculosamente, meu ódio foi eliminado. Um piloto da Luftwaffe, com as duas pernas amputadas, fez-me sinal para que alguém fosse orar à frente junto com ele. Ajoelhar-se, como é o costume, seria impossível para ele, pois não tinha mais seus joelhos. Dirigi-me até sua cadeira de rodas e orei com ele. Assim, o Senhor derreteu o meu rancor como o sol a neve. Foi um momento santo e inesquecível no Natal de 1945 e sempre que dele me recordo a emoção me abala.
1983. Trabalhávamos Anneli e eu no departamento editorial do quartel nacional em São Paulo, quando o Exército de Salvação do Brasil recebeu a visita de um oficial de nacionalidade alemã e de sua esposa, que é vista na foto sendo interpretada, do inglês para o português, por minha esposa.
Meu sogro, à esquerda, era o segundo em chefe e Carl Eliasen, à direita, na época o lider nacional de nossa obra, proveu-me de uma interessante história contada pelo visitante:
"Tte. Coronel Flade e Sra. Dona Ursula, excelentes visitantes que contaram histórias maravilhosas. Geralmente os visitantes internacionais que passaram pela guerra estavam do lado dos aliados, assim foi muito bom ouvir também algo "do outro lado".
O Coronel Flade contou-nos que como jovem oficial salvacionista teve que servir no exército militar alemão. Devido às suas convicções, foi destacado ao corpo de enfermeiros. Certa vez, quando trabalhava em uma enfermaria, escutou um assobio que vinha de uma cama onde um soldado ferido, das forças aliadas, estava deitado. Tratava-se da melodia de um coro cantado no Exército de Salvação no mundo inteiro, digamos: “Sou feliz, sou soldado nas fileiras de Cristo”... Flade respondeu, assobiando a continuação do coro: “Aleluia! Sou feliz ...” – Logo veio do leito o eco final: “Sou soldado de Jesus!”. Estabeleceu-se assim um contato, quando ambos identificaram-se como salvacionistas, e surgiu uma maravilhosa comunhão, embora, por estarem em campos contrários, tivessem que tomar cuidado, pois eram vigiados, particularmente pelo médico-chefe da equipe nazista.”
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Em 2001, em busca de minhas raízes na Alemanha (ver postagem a respeito), visitei em Berlim as ruínas da Gestapo. Aqui, poso ao lado do poster do teólogo-mártir Dietrich Bonhoeffer, que passou por ali antes de ser morto por enforcamento por sua oposição ao nazismo.
De alguma forma, Dietrich foi influenciado pelo Exército de Salvação em sua juventude. Na biografia do grande homem de Deus, Edwin Robertson cita que ele foi muito tocado pela alegria e comprometimento a Jesus Cristo dos salvacionistas durante um congresso em Berlim dirigido pelo general Bramwell Booth, filho do fundador William Booth.
Um DVD imperdível, que ganhou o prêmio de melhor filme no festival de Monte Carlo. Uma história verídica de amor, coragem e sacrifício. Procure no Índice meu post a respeito.
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L i n k s
Procure no "Índice de todos os meus tópicos" as muitas postagens que tenho feito neste blog a respeito do Holocausto perpetrado pelos nazistas, inclusive com fotos de minhas visitas aos campos de concentração Auschwitz-Birkenau, Bergen-Belsen e Treblinka. Idem, a lugares ligados à Segunda Guerra em Berlim, Nuremberg etc.
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Próxima postagem:
Volkswagen, uma invenção nazista ou não?
- Oportunamente, novas postagens com o tema "À sombra do nazismo".
4 Comments:
Olá Franke!
Verdade, acho que você poderia (deveria até), reunir um livro de suas memórias. Até mesmo para que elas não se percam. Não se trata de engrandecer o homem, no caso o Major Franke. Mas de registrar o testemunho do servo de Cristo a quem fora dada a oportunidade de acumular conhecimento e experiências cristãs genuínas e inspiradoras.
Grande Abraço do Amigo Saulo
By saulo, at terça-feira, janeiro 11, 2011 3:05:00 PM
Amigo, como é bom e proveitoso estar sempre a visita-lo no seu blog. Como não devemos esquecer nada do que conta a história, temos a satisfação de encontrar uma pessoa interessada em não nos deixar esquecer e ainda , nos informar muito mais! Dietrich escreveu poemas lindos e ensinou o amor do Cristo para muitos, mesmo nas suas poesias de paz e amor.
Mais uma vez, e com muita satisfação, serei obrigada a seguir este topico até que termine! Estamos na parti 1...que venham muitas!
Parabéns e bom trabalho!
Grande aBRaço!
By Maria Thereza Freire, at quarta-feira, janeiro 12, 2011 3:47:00 PM
Seu blog é um blog de conteúdo.Gostei do tópico "À Sombra Sinistra do Nazismo"; quero ler com mais calma e atenção. Coloquei no meu favoritos seu blog.
Ainda não sou um desbravador do mundo,mas quem sabe um dia.
Anonimo
By paulofranke, at terça-feira, janeiro 18, 2011 11:02:00 PM
A foto de Einstein posando com a banda salvacionista de Los Angeles-CA, é de 1939, antes de comecar a famosa Parada das Rosas, da qual o SArmy foi um dos pioneiros na preparacão do desfile, organizacão etc.
O dono do blog
By paulofranke, at quinta-feira, julho 06, 2017 3:44:00 PM
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