Paulo Franke

11 maio, 2011

"Sentar-se à janela" - Lembranças da antiga VARIG

EsEsta postagem foi planejada com base na leitura de uma crônica recebida pela Esta postagem foi planejada com base em uma crônica que recebi pela Internet, da qual gostei imensamente (de início veio só o texto, mais tarde o mesmo texto com ilustrações magníficas). Aqui, ilustro-a com algumas lembranças em fotos, selos e envelope comemorativo que reuni da antiga VARIG (Viação Aérea Riograndense), empresa que incendiava a nossa imaginação na juventude.









Neste bimotor pela primeira vez viajei de avião, de uma forma bem interessante. Ao pedir certa informação a um piloto militar no antigo Galeão - em 1968, quando eu tinha 25 anos - simpático, à maneira carioca, disse-me "Estou indo para lá, venha comigo!" Assim, em vez de uma informação, ganhei uma carona para Barbacena-MG, uma experiência inesperada ainda que há muito aguardada: andar de avião!

S E N T A R - S E ~ À ~ J A N E L A


Alexandre Garcia


Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul. Tudo era novidade e fantasia.



Um antigo comercial da MANCHETE colocava o moderno DC-10 ao lado de um antigo DC-8.



O que não existe mais: as "passagens" escritas à mão... as torres do World Trade Center.


Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.



Envelope com o carimbo comemorativo da inauguracão da linha VARIG para Nova York-1956.




Em 1977, guardei o papel e o envelope ao fazer aquele vôo.


O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido. As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.



O Super-Constellation no qual meu pai viajou a negócios.


Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona.Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque. Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.



Souvenirs no meu armário: copo e colher obtidos com a permissão da comissária de bordo, o emblema de plástico era para as criancas, mas ficou para mim, claro!

E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer. Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.




À direita, a foto tendo ao fundo um Electra, que fazia a ponte aérea. Sentar-me à janela era um "must" em cada vôo, mesmo de outras empresas!


Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu trabalho e convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida. A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.



A VARIG foi fundada em 1927 e sua primeira rota foi entre as cidades gaúchas de Porto Alegre - Pelotas - Rio Grande. O selo, valendo 350 mil reis, é de 1933, seis anos depois.


Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe. Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.



O selo de 1968, de somente 10 centavos, comemorava o vôo inaugural Brasil-Japão. Em conexão, o "jinglista" Archimedes Messina, em gravacão da Target Audio e produzido por Eduardo Ribeiro, criou o jingle cantado por Rosa Mi Yake. Lembro-me muito bem dele, que versava a respeito da "Saga de Urashima Taro" (informacão que me chegou a bom tempo por uma boa amiga brasileira que foi funcionária da VARIG por muitos anos em Paris).

http://www.youtube.com/watch?v=WLyaPAmMMfM

Outros informes sobre a história da VARIG, inclusive a respeito de seus famosos jingles - que geralmente terminavam com o popular "Conheca o Brasil pela VARIG, VARIG, VARIG!" - podem ser encontrados no Google.

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L i n k


A mais bela decolagem:




Postagens sobre aviões, inclusive acidentes, procure clicando no "Índice de todos os meus tópicos", à direita ao acessar o blog.

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Próxima postagem:

A família que escapou do massacre - ADHONEP

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5 Comments:

  • Que bela lembrança, estou indicando aos meus amigos e colegas Agentes d eViagesn.
    Que tempo bom quando existia Varig, Transbrasil, e outras mais

    Obrigada pela lembrança que guardo no peito.

    Fique com Deus amigo

    By Blogger Pelotas Turismo, at sábado, maio 14, 2011 4:17:00 PM  

  • Que saudades do dia que subi num avião pela primeira vêz! Foi exatamente num DC3 - São Paulo Porto Alegre, tremía e balançava, cheguei entregar minha alma à Deus...rsssss!
    Gosto de viajar em avião, o único problema com eles é que "voam muito alto"
    Parabéns pela matéria.

    By Blogger Yara, at sábado, maio 14, 2011 7:18:00 PM  

  • Despedida de uma despedida!


    O fato da Varig continuar (mesmo sem Paris, o que me exclui), muito me alegra pois ela existira para as novas gerações. A
    "antiga " passara o sentimento de "Orgulho de ser Varig", por isso mesmo que seu nome foi comprado em leilão.

    Eh considerada "Patrimônio Nacional" pelos Brasileiros, porque foi escolhida, utilizada e amada por brasileiros de diversas origens: alemães viajando para Frankfurt, italianos para Roma ou Milão, japoneses e nisseis para Tokyo, portugueses, espanhois e outras mais origens e destinos: ùnica "Tradição Brasileira" comum entre todos esses filhos de imigrantes, um verdadeiro elo entre eles!

    Mas, como todo monumento exposto ao tempo, a Varig sofreu com as asperezas da vida: porque não reconhecer?
    Dos maus tratos voluntários e involuntários!
    Assim ela precisa ser restaurada para "brilhar" novamente!
    Para isso é necessario dedicação e amor ao trabalho bem feito, para que ela cresça de novo e continue sendo o
    orgulho de todos os brasileiros e não so simplesmente mais uma "Compahia de Transporte".

    Despeço-me de todos, clientes e colegas, com o sentimento de ter cumprido meu dever durante meus quase 33 anos de serviço, honrando o nome da empresa, com a intima convicção de que fiz parte dos que deram assistência à "velha" Varig
    até seu ùltimo suspiro!

    Abraços a todos os que sem "ela" se sentem um pouco orfãos, como eu me sinto nesse momento!

    Analia, 2007.

    By Blogger paulofranke, at domingo, maio 15, 2011 8:13:00 PM  

  • O comentário anterior é assinado por

    ANALIA/VARIG-PARIS

    By Blogger paulofranke, at segunda-feira, maio 16, 2011 11:09:00 AM  

  • Só quem viveu algum momento junto a ANTIGA VARIG sabem o que dizem essas fotos. Para seus clientes queridos, saudades más para seus antigos funcionários uma dor profunda, semelhante a perda de um ente muito querido que se foi antes do tempo. Nosso céu ficou menos iluminado sem a ESTRELA BRASILEIRA.
    Betânia Variguiana de 1986 a 2006.

    By Anonymous Anônimo, at sábado, junho 25, 2011 2:25:00 AM  

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