Paulo Franke

19 abril, 2008

Finlândia, o país nórdico onde vivemos.

1. Fotos do país

2. Texto sobre o país

3. Nossa família no país



























































A Finlândia, com seus 338.145 km2 de superfície, é o sétimo maior país da Europa, tendo 1/4 de sua área situada ao norte do Círculo Polar Ártico. Cerca de 70% de sua área é coberta de florestas, principalmente pinheiros, abetos e bétulas (aquela linda árvore de tronco branco, popularmente chamada de a árvore com papel de parede). Preservador rígido de seu meio-ambiente, por lei para cada árvore que é cortada, outra ou outras devem ser plantadas em seu lugar. O nome do país no idioma finlandês é Suomi, enquanto que em sueco é Finland.


Tem 187.888 lagos e 179.584 ilhas. No norte do país o sol não se põe durante 73 dias no verão e não nasce durante 51 dias no inverno. Mesmo na região central ou na mais populosa ao sul essa é a primeira impressão do turista ou de quem vem morar no país: a escuridão no inverno e a luminosidade no verão. O dia amanhece (isto é, um sol fraquíssimo que somente aparece na linha do horizonte) logo depois das 09h00 e às 15h00 já vai desaparecendo. Por muitos meses o cidadão sai de casa para o trabalho praticamente à noite e volta também à noite. No verão, no entanto, ocorre o oposto: depois das 22h00 o sol ensaia uma pequena siesta e logo, pela 01h00 da madrugada, desperta com todo o seu vigor. Há que se acostumar a dormir - quando não se apela a pesadas cortinas - sendo incomodado por um raio de sol no rosto em plena madrugada!


O país possui de forma bem definida as quatro estacões do ano: a primavera que explode em flores por todos os lados, mesmo dentro de florestas, as primeiras desabrochando muitas vezes debaixo da neve do inverno ainda por derreter-se; o verão almejado pelos finlandeses que vão para as suas cabanas de verão junto ao lago, bronzeiam-se nas praias e nos parques, frequentam restaurantes e cafés que colocam suas mesas e cadeiras nas calcadas (no bom estilo parisiense) e vivem intensamente cada momento dessa época fugidia; o outono, que pinta as árvores de belas cores para depois forrar o chão de amarelo e vermelho, tempo de ir vestindo roupas mais pesadas; o inverno longo, com lindas paisagens vistas das janelas (geralmente amplas) de casas aquecidas. Carros, conducões, estabelecimentos comerciais etc. são igualmente aquecidos, de fato uma questão de sobrevivência. Ainda que se descortinem aos nossos olhos paisagens belíssimas nas moderníssimas e sempre bem-conservadas rodovias, dirigir no inverno requer um certo know-how, e mesmo assim acidentes ocorrem.


A populacão da Finlândia é de 5.291.517 habitantes. A língua oficial é o finlandês, falado por cerca de 95% da populacão, e a segunda o sueco, por cerca de 5%. Se há cidadãos de língua sueca em uma cidade, ela é chamada pelos nomes finlandês e sueco, por exemplo: Helsinki-Helsingfors, Oulu-Uleåborg, Tammisaari-Ekenäs etc., e nessas cidades as plaquetas geralmente mencionam as ruas em dois idiomas, por exemplo onde moramos em Helsinki: Lohjantie, Lojovägen (tie-vägen=caminho), e onde morávamos anteriormente, Frederikinkatu-Fredriksgatan (katu-gatan=rua). A língua dominante pertence ao ramo urálico, falado por 23 milhões de pessoas no mundo, também pelos húngaros e estonianos. Ainda que possuam essa afinidade, não se entendem entre si.


A Finlândia já foi dominada pela Suécia e também pela Rússia, país do qual se emancipou em 1917, sendo o dia 6 de dezembro comemorado como o Dia da Independência. Lutou na "Guerra de Inverno", em conexão com a Segunda Guerra Mundial, contra a Rússia, que anexou a Carélia finlandesa ao seu país, chaga no espírito de muitos carelianos-finlandeses. Conservou-se independente como nacão, apesar de tremendas ameacas, sendo por muitos anos o único país não-comunista a fazer fronteira com a URSS. A tenacidade dos finlandeses fez a nacão vencedora contra o poderoso exército vermelho na Guerra de Inverno, na qual o uniforme de seus bravos soldados era de cor branca para identificar-se com a neve, camuflagem perfeita.


O país tem um regime republicano parlamentarista, semi-presidencialista. A presidente, no momento uma mulher, a primeira a governar o país, só é responsável pela política externa, representando o Estado Nacional. Na Europa a mulher finlandesa foi a primeira a obter o direito do voto, em 1906. Tem estado repetidas vezes no rank do primeiro lugar entre as nacões menos corrompidas do mundo, e de 146 países o primeiro no de transparência mundial.


Possui uma economia de mercado altamente industrializada. O setor-chave de sua economia é o da indústria madeireira, metalurgia, engenharia, produtos eletrônicos e de comunicacão (destaque para a mundialmente conhecida Nokia, que se pronuncia Nôkia e não Nókia). Fabrica navios gigantescos (ferries), além de navios quebra-gelo, necessários localmente mas também exportados para países do hemisfério norte.


Sibelius é o seu mais conhecido compositor, porém há outros expoentes na arquitetura, nos esportes, no teatro, nas artes plásticas, no artesanato etc. O hino nacional da Finlândia tem palavras modestas se comparadas ao hino nacional brasileiro.


O poeta Z.Topelius descreve o povo finlandês: "As suas características mais comuns são tenacidade, forca interna, paciência, determinacão... apego pelo antigo e pelo bem-conhecido, desgosto pelo novo... sentido de dever, respeito pela lei, desejo pela liberdade e honestidade... o finlandês é conhecido por ser reservado e cauteloso. Precisa de tempo para relaxar e conhecer as pessoas, mas depois é um amigo fiel..."


A descricão acima, embora escrita em 1898, ainda é um fiel retrato do povo finlandês. No entanto, esse povo tem mudado, ainda que devagar, pelas circunstâncias da última década principalmente. Quando vivemos neste país pela primeira vez, no início dos anos 90, possuía cerca de 9 mil estrangeiros no país, enquanto que hoje somos mais de 100 mil, aumentando mais e mais devido à União Européia. O aumento de estrangeiros só não é mais considerável, a meu ver, pela exigência na maioria dos empregos do conhecimento do dificílimo idioma finlandês, por exemplo, possuidor de declinacões (enquanto que no idioma português e outros temos as preposicões, no finlandês a palavra modifica-se cerca de17 vezes pelas posposicões agregadas à própria palavra, mesmo aos nomes e sobrenomes). O sueco, que também não é uma língua fácil, é uma opcão para quem quer estabelecer-se no país, porém para a obtencão de emprego a preferência sempre será para quem fala o finlandês. Nota curiosa: o governo paga para estrangeiros aprenderem o idioma. O inglês, como segunda língua da Europa, é bem popular. Impressionante como o inglês ensinado nas escolas, mesmo primárias, é logo aprendido. É comum ver-se criancas e mesmo pré-adolescentes falando com certa fluência o idioma. Os brasileiros somos em cerca de 500, pessoas cujos cônjuges são finlandeses, engenheiros ou técnicos da Nokia, intercambistas, aqueles que aqui fazem seu doutorado ou mestrado ou então gente envolvida em outras atividades.


O Natal é a festa mais comemorada no país, que tem como religião oficial o luteranismo. A mais famosa igreja é a Rock Church, construída dentro de uma imensa rocha (foto)
Em 1927 um locutor de rádio anunciou em um programa infantil que o Papai-Noel vivia em uma determinada cidade da Lapônia, região nórdica (algumas fotos acima são da Lapônia), o que se espalhou pelo mundo inteiro. Hoje, na época do Natal principalmente, turistas dos mais variados países visitam A Cidade do Papai-Noel (já assisti a programas de TV brasileiros filmados naquela área para serem apresentados por ocasião do Natal). E lá turistas praticam esportes de inverno os mais diversos, inclusive andar de snowmobil, em carros puxados por renas, cães, inclusive experimentando alguns pela primeira vez a sauna.


Preferência nacional, a sauna é uma tradicão muito antiga que os antepassados dos finlandeses praticaram já há vários milênios. Tão arraigada está na cultura finlandesa, que muitos apartamentos são construídos tendo a sauna como um dos cômodos, enquanto que muitos edifícios também a possuam, com escala para dia e hora de cada morador. Toda cabana à beira do lago a possui, e é comum no inverno após a quentíssima sauna a pessoa rolar na neve ou entrar no lago congelado através de um buraco no gelo (fiz isso uma vez e nunca mais!!). Atualmente popular em muitos países, infelizmente no Brasil a sauna pode ter uma conotacão não-respeitosa. Tão respeitada é a sauna na Finlândia, que é lembrada como o lugar onde as mulheres davam à luz no passado, um lugar aquecido para dar boas-vindas (tervetuloa- välkommen) aos novos finlandezinhos que nasciam durante o rigoroso inverno.


Considero o povo finlandês um povo bonito. Tem feicões suaves e geralmente olhos azuis. Olhos claros, no entanto, por serem comuns não são elogiados e sim olhos castanhos ou escuros. Mocas do tipo que em outros países poderiam ser candidatas a modelo, por exemplo, podem ser encontradas nos ônibus e bondes, como balconistas, vendendo sorvete ou mesmo limpando pracas públicas como trabalho de verão. Muitas mulheres são condutoras de bondes.


Homens ou mulheres de negócio podem utilizar uma bicicleta ao irem para o escritório. Ainda que o nosso país tenha a fama de país da espontaneidade, as brasileiras não se comparam à parte da juventude finlandesa que em suas roupas adere ao estilo exótico, esculachado, vale-tudo ou o que seja. Aqui o que importa não é o ser belo, mas o ser diferente. Naturalmente se vê pessoas vestindo-se de modo normal ou mesmo elegante, principalmente senhoras da meia-idade. Cores de cabelo podem ser as mais extravagantes possíveis. Nisso vejo um rebelar-se contra as tradicões rígidas dos mais velhos, ativos e sempre querendo impor ordens, de preferência não entregando o bastão para as novas geracões... A longevidade por aqui de fato "perde-se de vista".


A Finnair é a companhia aérea oficial do país, operando desde 1923 e com o recorde 0 zero de acidente aéreo. Ainda que opere em muitos países do mundo, para viajarmos ao Brasil sempre embarcamos em uma aeronave da Finnair que nos leva a um determinado aeroporto na Europa de onde fazemos a conexão para o nosso país. A rede ferroviária estende-se de norte a sul, inclusive com trens de luxo, de dois andares, com cabines e restaurantes. Fato curioso é que há pessoas que deixam seus laptops nas mesinhas diante de seus assentos e vão ao banheiro ou mesmo ao restaurante, sem receio de serem roubadas. Se há algo negativo nessas viagens é o fato de as passagens ferroviárias serem muito caras. Viajar para o exterior é muitas vezes mais barato do que viajar dentro do próprio país (ah, quem me dera viajar mais vezes para visitar minha filha e sua família, que vivem no norte do país!). Viajar de Helsinki a São Petersburgo são apenas 6 horas em um trem russo em cujo restaurante as janelas têm cortinas creio que de veludo e se vê através delas candelabros. As rodovias são altamente bem-conservadas, com possibilidade de se dirigir a até 120km hora. Navios - ferries - são comuns entre a Finlândia e a Suécia ou entre o país e a Estônia ou ainda, no verão, à Alemanha. Viajar neles, no trajeto Finlândia-Suécia, é a fascinacão de quem chega ao país que depois vai virando rotina: cabines de todos os níveis e gostos, restaurantes finos a lanchonetes, cassino, shows diversos, salão de danca, sala de karaokê, shopping-centers duty-free, piscina, sauna, cinema e o que mais se possa imaginar, verdadeiras cidades singrando o Báltico. No verão o convés fica repleto, enquanto que no inverno pode ser um tanto sinistro devido à escuridão, ao vento e à neve ou chuva. E o principal, comentando sobre esses navios, os precos são acessíveis, inclusive se quiser levar o seu carro. Idem para fazer um cruzeiro por um, dois ou mais dias. É, no entanto, para não se ficar nas nuvens, o paraíso dos alcoolistas...


Muito mais poderia se dizer a respeito deste grande-pequeno país. Aos interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre o mesmo, recomendo procurar informacões online ou mesmo literatura em língua inglesa ou mesmo portuguesa.


Para finalizar acrescento opiniões pessoais variadas, positivas e negativas - sem obedecer necessariamente a uma ordem - baseadas na minha vivência no país, terra de minha esposa, na primeira vez por 4 anos (na ilha de Åland, entre a Suécia e a Finlândia, província autônoma de língua sueca) e já por 9 anos nesta segunda vez, nas cidades de Helsinki-Helsingfors e Vaasa-Vasa, na costa oeste à beira do Golfo de Botnia.



- Ainda que possa parecer um paraíso sobre a Terra, por pertencer ao Exército de Salvacão (Pelastusarmeija em língua finlandesa e Frälsningsarmén em língua sueca) convivemos com sérios problemas sociais, sendo o principal o alcoolismo, típico dos países nórdicos. Nossa organizacão possui diversos centros de acolhimento e tratamento, sendo que na capital Helsinki destaca-se um edifício com capacidade para 400 pessoas, sempre lotado. Uma fila diária de entrega de pão e mantimentos diversos prova que a pobreza também existe no país, geralmente como consequência do alcoolismo que destrói o indivíduo e sua família. Bêbados não andam isolados, mas em pequenos grupos, cuja presenca em locais públicos causa muitas vezes confusão e embaraco, em espetáculos grotescos; extremamente sujos, provam até que ponto degradante pode chegar um ser humano, muitas vezes provindo de famílias respeitáveis. Jovens são iniciados na bebida muito cedo, infelizmente. Muitos bebem mais do que socialmente, outros "perdem os freios" e enveredam pelo caminho do alcoolismo. Uma grande parte da populacão faz um estoque de cerveja para o final de semana e de segunda a sexta (à tarde) é sóbria e produtiva. Muitos acreditam que a alegria só vem através do álcool...


- Ainda que seja um país luterano, são muitos os nominais que não levam religião a sério, e a consequência naturalmente é desastrosa, principalmente na área moral. A escola dominical é lembranca de tempos passados, pois atualmente a maioria dos pais não se preocupa com educacão religiosa para seus filhos. Ainda que haja muitas igrejas vivas, luteranas ou livres, igreja de modo geral significa, ao contrário do Brasil, algo para velhos e não para jovens, pensamento que muitos finlandeses compartilham, infelizmente, com a maioria dos demais países da Europa. Há, no entanto, muitos jovens e adultos fiéis a Deus e que pagam um preco por sua consagracão. Em suma, ser cristão genuíno e dedicado e dar seu testemunho neste país provavelmente incluirá conhecer escarnio e oposicão. Ou, quem sabe, conhecer uma das perseguicões deste presente século, que é a indiferenca.


- O finlandês é geralmente bem-educado e honesto. Um objeto perdido na rua é deixado em um lado para que o indivíduo que o perdeu volte e o encontre, só um exemplo. Interromper alguém que está conversando com outra pessoa é um grande gaffe. O finlandês de modo quase geral é apaixonado pela leitura, sendo o nível de cultura do povo algo invejável. Há bibliotecas altamente equipadas em todas as cidades do país, inclusive bibliotecas-ambulantes para atingir as zonas rurais. Centros para prática de esportes são comuns, idem rinques de patinacão no inverno, localizados ao ar livre, apinhados de gente nos finais de semana. Cada cidade, mesmo as pequenas, possui no mínimo um centro de esportes com piscina, alguns com piscina olímpica; na capital e em outras cidades há centros aquáticos de entretenimento, abertos ao público mesmo no rigoroso inverno. É bom ir de vez em quando a esses lugares aquáticos - pois é caro o ingresso para se ir muitas vezes - e no inverno, enquanto se nada em uma piscina aquecida "de ondas", ver a neve cair através dos imensos janelões de vidro.


- Muitos finlandeses são tímidos, muitos também são dados à depressão, principalmente pelos longos meses de escuridão que cobrem o país. Viajar durante o inverno para países do Mediterrâneo é algo bem comum e acessível, para muitos uma necessidade. Não é incomum cidadãos mais idosos adquirirem uma propriedade nos países banhados pelo Mediterrâneo e viverem neles durante o inverno finlandês. Em anos mais recentes os finlandeses, como os demais povos nórdicos, têm descoberto outros centros turísticos como as praias da Ásia e do nordeste do Brasil a fim de passarem suas férias. Todos os que trabalham têm direito a 35 dias de férias anuais, distribuídas em 4 semanas no verão (junho, julho e agosto) e 1 semana de férias de inverno (janeiro, fevereiro ou marco). Muitos pais fazem coincidir suas férias de inverno com a semana que as escolas proporcionam aos seus alunos, chamada de a semana para esquiar. O dia após feriados de Natal e Páscoa é também feriado. Há uma versão que diz que o cidadão precisa de um dia, pelo menos, após feriados prolongados, para os que viajam voltarem para casa e se refazerem para a retomada ao trabalho ou à escola.


- Ainda que se saiba que haja racismo, é um racismo velado, o que atribuo em parte à timidez e ao fato de tantos finlandeses serem mais abertos atualmente a outros povos e culturas devido às constantes viagens que fazem ao exterior. Há finlandeses que não gostam e há outros que gostam de estrangeiros vivendo em seu país, acham interessante. A emigracão finlandesa para os Estados Unidos no início do século passado, para a Austrália e mesmo para a vizinha Suécia faz "calar a boca" de alguns. Andar de bonde na capital Helsinki, principalmente, é uma experiência que mostra o quanto o país tem-se tornado multicultural.


- Durante décadas o Brasil (assim como outros países) receberam bons missionários da Finlândia, inclusive meus sogros. Até bem pouco tempo os 6 oficiais finlandeses do Exército de Salvacão da Finlândia que trabalharam em nosso país, como retribuicão, foram substituídos por 3 casais de minha família que vieram do Brasil e aqui trabalham (embora minha esposa Anneli seja finlandesa, tendo ido com seus pais para o Brasil aos 5 anos). Um casal gaúcho, ele parente de um de nossos genros, veio recentemente trabalhar em tempo integral na obra; outro casal, ela irmã de nossa nora, ele trabalhando na Nokia em Oulu, são ambos fiés soldados do Exército de Salvacão em Oulu.

- Finlandeses visionários, no final da década de 20, foram para a América do Sul e estabeleceram comunidades, sendo a que mais prosperou foi a de Penedo, no Estado do Rio de Janeiro, próxima a Resende, hoje uma pequena cidade turística que recebe muitos turistas brasileiros.


- Há muitas curiosidades ligadas aos costumes da terra, uma delas é tirar os sapatos assim que se entra em uma casa. O costume vem por causa do inverno cuja neve sujaria e maltrataria o chão ou ou tapete do anfitrião, mas conserva-se também nas demais estacões. Da mesma forma, os veículos trafegam, por causa da escuridão do inverno, com seis faróis acesas e ...também no luminoso verão. Ao nascer um bebê a mãe recebe do governo uma grande caixa com todo o enxoval do recém-nascido e pode ter licenca-maternidade de até 3 anos se desejar. Uma pessoa que morre tem seu funeral geralmente duas semanas após ter falecido e, depois de ser enterrada, é costume a família convidar os presentes a irem a um restaurante, geralmente bom, onde é oferecido um café com salgados, bolos e tortas (difícil foi "engulir" este costume, que chamo de "festa"). Do falecido/a - que muitas vezes deixa instrucões detalhadas quanto ao restaurante e cardápio a ser oferecido no dia de seu funeral - há a foto e uma vela sobre uma pequena mesa.


- Nos primeiros anos que aqui cheguei, atento às diferencas marcantes entre os finlandeses e os brasileiros, escrevi uma lista das "100 diferencas entre os brasileiros e os finlandeses", permeada de humor e também de respeito, salientando lados positivos e negativos, equilibradamente, entre ambos os povos. Nunca coloquei essa lista na Internet e naturalmente se o fizesse agora "podaria" muita coisa uma vez que o tempo tenha passado e que eu mesmo tenha assimilado uns tantos costumes desta que considero a minha segunda Pátria amada!





Foto que meu saudoso sogro tirou em uma de suas últimas férias em sua amada Finlândia, a qual transformou em posters e presenteou aos 5 filhos.


Nossa primeira casa, na ilha de Åland. Foi surgir a primavera e as tulipas simplesmente apareceram no canteiro.



Com a filha Deborah, os dois trajando ponches gaúchos com paisagem da ilha de Åland.



Típica paisagem finlandesa na ilha de Åland. Típica finlandesa também, minha sogra (conosco na foto), após viver 50 anos no Brasil, decidiu retornar à sua terra natal em 2002. Hoje aos 85 anos vive sozinha, muito satisfeita e sempre ativa ao fazer doces típicos da terra e também trabalhar no tear, além de assídua nas reuniões salvacionistas, felizmente no mesmo prédio onde mora.


Em 1993, antes de retornarmos ao Brasil após 4 anos, diante da Igreja Ortodoxa, a segunda religião oficial do país.


Morangos e frutas silvestres são as mais comuns no país, que importa a maioria de suas frutas.



A foto mostra um típico dia de inverno. O que parece um pôr-do-sol é o sol em pleno meio-dia.


Um belo lugar de conferências . Valeu tirar a foto para mostrar as bétulas ao fundo.


Não só as criancas o usam, mas também adultos como meio de transporte que desliza no gelo. Naturalmente, não em cidades grandes.



Cada estacão do ano com a sua beleza.



Leandro e Judith na floresta, em plena primavera.


O netinho Kristoffer nasceu em pleno inverno. Da janela da maternidade uma esplêndida vista.

Snowmobil, usado tanto como esporte quanto como meio de transporte.




A segunda filha, Martta, foi a primeira a chegar com sua família ao país depois de nós. Ambas as filhas vieram com somente um filho, nascendo os outros na nova terra.



A primeira filha, Deborah, foi a segunda a chegar com sua família. Três dias após termos recebido a família no aeroporto, eles foram levar-me ao porto onde parti para visitar (de trem) 13 países europeus, pela InterRail. A primeira etapa, Helsinki-Estocolmo, só pode ser feita por via marítima, naturalmente.


Deborah levando os filhos para a créche.



Um cruzeiro marítimo pela empresa finlandesa Silja Line (a Viking Line é sueca), durante o Ano-Novo.



No karaokê do navio, cantando "He has the whole world in His hands" e acrescentando "Ele tem este grande navio em Suas mãos".



As próximas fotos são das alegres visitas de nosso filho Aaron, vindo de São Paulo visitar não somente a família, mas também rever a neve que conheceu tão bem quando menino na ilha de Åland.















Uma foto diante do estaleiro em Helsinki.


Oi, filhão, que bom saber que na próxima vez você virá com a Flávia e o Lukas!!

O cartão de Natal da criativa filha Martta.


No topo da "pilha", a mais nova netinha nascida na Finlândia, Maria Isabel. Somos gratos a Deus pelos 6 netinhos que nos concedeu (por enquanto... (?)), 3 nascidos no Brasil e 3 nascidos na Finlândia, todos porém com dupla cidadania, brasileira e finlandesa. (Lukinhas, será que a Maria Isabel aguentaria o seu peso?)




Provérbios 31:21



*¤*¤*¤*¤*¤*¤*¤

Links:





http://paulofranke.blogspot.com/2007/10/foto-que-tirei-ao-longo-de-um-ano.html



http://paulofranke.blogspot.com/2007/06/ritva-anneli-hmlinen-franke.html



11 abril, 2008

Mayer Franck, ontem Auschwitz, hoje Finlândia.


Quando por ocasião dos 60 anos do fechamento do Campo de Concentração de Auschwitz, em 2005, convidei Mayer Franck para contar sua história em uma de nossas reuniões em língua sueca em Helsinki. Ele concordou prontamente e por uma hora nos contou sua experiência como que extraída de um livro de aventuras. Era a história de um adolescente judeu que provou os horrores da guerra, mas que sobreviveu como que por milagre.
Dias mais tarde, a seguinte reportagem foi publicada na nossa revista Krigsropet/Sotahuuto a respeito da visita de Mayer Franck:

Sem vestígio de amargura, o homem à minha frente perdeu sua família, trabalhou duramente no campo de concentração e teve sua vida salva por duas vezes. A despeito disso, afirma que houve muitos bons alemães que o ajudaram. Este homem é Mayer Franck, a última pessoa que ainda vive na Finlândia e que provou os horrores de Auschwitz.

Mayer tinha 11 anos quando os nazistas invadiram a Polônia em setembro de 1939. A família Franck sem nenhum aviso foi obrigada a deixar seu lar na pequena cidade de Zgierz sendo levada para o gueto na cidade de Lodz. Com 12 anos o menino começou a trabalhar em uma fábrica que costurava roupas de pele para o exército alemão. Seu pai morreu de difteria naquele mesmo ano. E aí aconteceram transferências para outros campos de trabalho. Em 1942 todas as crianças menores de 10 anos e todos os que tinham mais de 60 receberam a ordem de deportação. Felizmente ninguém de sua família estava enquadrado nessas idades.

Mas chegou o tempo naquele mesmo ano quando sua família também teve de mudar de lugar. Foram levados a um hospital juntamente com muitos outros. Minha irmãzinha de 10 anos perguntou à mamãe se estávamos indo para casa. Ainda que a resposta tivesse sido “muito em breve”, isso não aconteceu.

Mayer decidiu um dia fugir e saltou do telhado de uma altura de três metros. Logo ouviu tiros e correu sem parar até que se escondeu em um bueiro, onde permaneceu todo o dia. À noite criou coragem e saiu dali. Ninguém mais estava no local de onde fugira. Soube mais tarde que todos haviam sido levados para a câmara de gas. Mayer, com 14 anos, havia perdido sua irmãzinha e sua mãe.

O gueto esvaziou-se

Mayer de algum modo voltou para a fábrica onde havia trabalhado e foi adotado por uma família de amigos. Mas quando os russos começaram a aproximar-se do gueto de Lodz, os alemães o esvaziaram. Foram levadas, cerca de 5.000 pessoas, para um outro lugar prometido pelos nazistas como "um lugar melhor".

No novo lugar foi-lhes prometido um saco de batatas a todos que prometessem ir à feira em um certo horário do dia seguinte. Uma armadilha: não havia nenhum saco de batatas e, em vez disso, as pessoas foram agregadas e transportadas para o campo de concentração.

Mayer, no entanto, conseguiu fugir com outros jovens e à noite procuraram comida. Achando repolho em uma casa abandonada, o cozinharam. No dia seguinte foram descobertos escondidos em um velho armário da casa. Corria o ano de 1944, e Mayer Franck foi colocado em um trem que o levou para Auschwitz.

Salvo por um médico

“Magro”, foi o comentário quando com outros passou pelo lugar de seleção. “Sim, mas eu posso trabalhar duro, mesmo com pouca comida”, respondeu. E passou para a ala dos que iriam trabalhar, enquanto os doentes, os incapacitados e os velhos foram direto para as câmaras de gas.

Mayer foi trabalhar em uma refinaria. O local ficava a 3-4km do campo de trabalho onde 800 outros prisioneiros se encontravam. Os que ficavam doentes eram imediatamente levados para Auschwitz. Os dedos de Mayer estavam em péssimo estado por trabalhar duramente sem usar luvas mesmo no mais rigoroso inverno. Um medico tcheco, porém, deu-lhe permissão para ficar um dia no hospital. O mesmo medico tirou-lhe em seguida dali e assim salvou a vida de Mayer: no mesmo dia chegou um caminhão de Auschwitz para buscar os doentes e levá-los diretamente às câmaras de gas.

Marcha para a morte

Em janeiro os russos aproximaram-se do campo e os prisioneiros foram obrigados a marchar em direção ao oeste. Era a marcha da morte. Os que se cansavam eram mortos a tiros. Mayer viu à sua frente um homem jovem que estava tão cansado que tirou o casacão para aguentar prosseguir. Ele aguentou mais alguns quilometros e caiu no chão e aí ouviu-se um tiro.

À noite os prisioneiros foram colocados em um celeiro. De manhã Mayer se escondeu no meio do feno. Os alemães usaram garfos enormes para cutucar o feno, mas Mayer não foi encontrado. Os soldados estavam com pressa, mas Mayer e alguns outros permaneceram dentro do feno enquanto alguns eram achados e mortos a tiro.

Mayer, sempre tentando escapar, escondeu-se na fazenda de um camponês. Primeiro no celeiro mas depois no chiqueiro onde era mais quente. Os alemães apareciam de vez em quando na fazenda, o que o obrigou a se esconder durante 6-7 semanas em um pequeno espaço do sotão. Fazia frio intenso. Ele ficou muito sujo e não podia mover-se nem para cuidar de suas necessidades. Os piolhos começaram a incomodá-lo. Ele matava alguns piolhos e os comia. Então uma bomba atingiu o celeiro que começou a pegar fogo. Havia grande perigo e ele teve que sair. Muitos alemães o viram, no entanto, como por milagre, o deixaram em paz apesar de certamente entenderem que se tratava de um judeu, o que um deles chegou a perguntar.

Mayer voltou a procurar refúgio, dessa vez novamente no chiqueiro. Um oficial alemão o viu e, em vez de o matar, mandou-lhe uma bandeja de comida, o que lhe pareceu muito estranho. Embora fosse proibido fazer amizade ou mesmo conversar com os nazistas era um risco que valia a pena, pois de fato não havia nada a perder. Certa vez em uma refinaria um nazista jogou jornais numa vala a fim de que os presos pudessem ler que o exército vermelho já se achava a 70km de Berlim Os russos chegaram enfim e depois de algum questionamento ele ficou livre. Voltou a Lodz onde passou mais ou menos um ano

Em casa na Finlândia

Após a guerra, procurou saber se seus parentes poloneses haviam sobrevivido. Nem um sequer. Através da família que o adotara soube de alguém que vivia na Finlândia, razão pela qual veio aqui morar. Casou-se mais tarde e começou uma firma que costurava roupas de pele, o mesmo ofício em que se ocupou, bem jovem, durante a guerra.

Durante este ano Mayer Franck tem sido muito requisitado para falar de sua experiência. O faz tendo em mente a que as pessoas nunca se esqueçam do holocausto dos judeus. No entanto, dá ênfase ao fato de que não guarda amargura, muito menos desejo de vingança com relação aos alemães. "Encontrei muitos alemães bondosos", insiste em afirmar.



Mayer Franck com o Major Franke, amigos que se abraçcam - no bom jeito brasileiro - a cada vez que se encontram.

Leia, neste mesmo blog, minha emocionante visita ao campo de concentraçcão de Auschwitz-Birkenau, em 2001:

http://paulofranke.blogspot.com/2006/08/campo-de-concentraco-de-auschwitz.html


Aguarde: relatos e fotos neste blog da visita a um outro campo de concentração e a lugares ligados ao Holocausto, o que planejo fazer, permitindo Deus, nas minhas férias pela Europa no verão de 2008.