Às vésperas de mais uma viagem, deduzo que estou me tornando finlandês após o meu nono inverno neste país... Nos primeiros anos, estranhamente, temperaturas negativas, a neve e o gelo, e principalmente a ausência de sol a pino (ele aparece, quando aparece, lá bem longe, na linha do horizonte nos meses de dezembro e janeiro) e as longas horas de escuridão não me afetavam negativamente. Hoje em dia, igual à maioria dos finlandeses, anseio por ver o astro-rei, daí nada como viajar para um país ensolarado durante as minhas férias de inverno em janeiro, exatamente o que estou fazendo daqui a dois dias.
Curto viagens, antes, durante e depois, vibracão total! E vivendo no norte da Europa elas são muito acessíveis, dependendo do hotel que se escolha na agência de viagens. É comum ouvir-se faxineiras conversando se este ano irão passar suas férias em Roma ou Atenas, por exemplo. Eu mesmo, na década de 90, quando aqui moramos pela primeira vez, para não "mexer" no orcamento familiar, fiz faxina em uma firma por três meses, somente duas horas por dia, e logo estava viajando para o Brasil em um grande Jumbo, pensando com os meus botões quando isso aconteceria na nossa terra!...
Desta vez estou escolhendo, como das outras vezes, um hotel dos mais baratos - invariavelmente com piscina - que serve café da manhã. Os das duas viagens anteriores, à Turquia, não serviam, mas em compensacão eram apart-hotéis com cozinha. Mais caros? De forma alguma, minha escolha ou possibilidade não variam, são sempre os mais baratos. Era muito fácil, bastando comprar miojo, salsichas, pão e leite nos supermercados pequenos perto dos hotéis, ou no próprio hotel, e fazer o banquete de minha comida japonesa preferida, como um rei na sacada olhando as altas montanhas ao longe.
Como típico turista pobre, o jeito será comer o máximo possível no café da manhã e depois, bem mais tarde, evitando restaurantes geralmente caros, comer um lanchinho típico qualquer, sempre com saudade dos pastéis de feira de São Paulo, gostosíssimos e que valem por uma refeicão! Pastelarias... que falta nos fazem no exterior!
Quando vejo principalmente americanos viajando com enormes malas bloqueando corredores de trens, considero-me um privilegiado por ter aprendido a arte de levar o mínimo de bagagem quando viajo. Para mim - e pelas minhas circunstâncias... - viajar significa aventura, misturar-se com o povo local, conhecer sua cultura e estar pronto para enfrentar o que der e vier, evitando os passeios planejados pela própria agência de viagens, geralmente caros e sofisticados, quando todos vão em grupo ao mesmo lugar, de preferência evitando os
natives.Não levo cartão de crédito quando viajo e tampouco guardo o meu dinheiro no cofre do hotel (cobram uma barbaridade, como dizemos nós os gaúchos!). Quando vou nadar, coloco as cédulas, não muitas, em um plástico sem nenhum furo e guardo-o no bolso de meu calcão de banho, método que falhou só uma vez quando tive de pôr as notas para secar na volta ao quarto do hotel. Felizmente, em hoteis onde tenho sido hospedado ultimamente, há cofres no próprio quarto.
Pertencendo ao Exército de Salvacão, organizacão mundial que também ajuda aos pobres, ganhamos pouco, e não raro meus hotéis são casas de colegas em outro país ou mesmo ser hóspede em alguma entidade social para recuperacão de alcoólatras, o que aconteceu em Paris e em Berlim há alguns anos. E como foi bom sentar-me à mesa com pessoas sofridas mas simpáticas e comermos juntos o pão no café da manhã incluído na hospedagem! Foi também a oportunidade de tirar o meu francês de ginásio do fundo do baú ou arranhar as minhas poucas frases em alemão que qualquer gaúcho fala.
Minha piada continua fazendo sucesso: -
Tenho desconto de 50% em passagens, hotéis, restaurantes, passeios etc. Quando meu ouvinte me olha admirado e com uma ponta de inveja por ser tão privilegiado, acrescento:
É porque minha esposa não gosta de fazer turismo, portanto sempre vou só, pagando assim metade do preco em tudo (risos, enfim!).
Então, estou revelando aos caros leitores do meu blog o meu segredo de viajar tanto, principalmente nesta fase de minha vida: simplicidade, aventura, "cara e coragem" e olhos bem abertos para admirar os monumentos e ruínas dos homens e as obras da criacão de Deus à la Francisco de Assis, com Ele sempre ao meu lado. Minha oracão é que me dê ainda muitas oportunidades de viajar nos anos que me restam. Amém!
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Quando era redator de um jornal do Exército de Salvacão em São Paulo, publiquei um poema, oportuno para este momento antes de mais uma viagem, a qual postarei, se Deus quiser, com impressões e fotos neste blog ao retornar.
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Captando a mensagem
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O avião atravessou as nuvens à sua frente;
A chuva fria, o vento e a geada
São passados, finalmente.
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No céu azul o sol envia,
Através da janelinha, de sua luz um facho;
E as pessoas todas estão tremendo de frio
Nas ruas congeladas, lá embaixo.
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Enquanto eu, de pés molhados, miserável,
Estava andando sobre o lodo,
Você quer dizer que o sol lá em cima
Estava brilhando o tempo todo?
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Ah! agora percebo a mensagem
E compreendo o Teu sinal:
Não importa quão ruim o mundo se torne,
O bem há de vencer o mal.
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E quando nuvens espessas
Parecerem querer nos separar,
Vem com Teu calor e Tua luz
A escuridão atravessar.
General John Gowans - Londres
- traducão minha -