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Prestei o serviço militar em 1962, enquanto que meu pai -nas duas fotos - em 1933, ambos no Nono Regimento de Infantaria na cidade de Pelotas, RS.
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Embora tenha gostado muito .de prestar o serviço militar, reconheco que fui um soldado desastrado...
As experiências de que mais me lembro giram em torno dos "foras" que dei, que talvez me tenham feito corar àquela altura. Inicio a relatá-las com a que me fez ficar vermelho pelo esforço e depois... pálido a ponto de quase desmaiar:
A hora da ginástica
Imaginava que a ginástica militar, iniciada no dia seguinte da chegada dos recrutas, seria parecida com a ginástica da escola, mas o quê?? Não houve nem aquecimento e logo estávamos correndo em disparada para o local. E sob as ordens que mais pareciam berros do sargento, tínhamos que parar e fazer uma série de exercícios ultra puxados, de tirar o fôlego e fazer alguns quase desmaiarem (eu entre esses).
Será que eu me acostumaria com os rigorosos exercícios de cada manhã? Duvidava...
Então, suados e esbaforidos, voltamos para a companhia. E aí algo aconteceu (uff!). Ainda sem sair fora de forma, um outro sargento aproximou-se do nosso pelotão com uma pergunta: "Há alguém aqui que é datilógrafo?". Mesmo com os braços doloridos, levantei o direito a uma velocidade incrível, pois isso talvez significasse a minha libertação. E logo, após um teste, fui escolhido para ser o auxiliar de sargenteação (escritório da companhia), e uma das regalias era ser isento da... ginástica! Fazer escalas de serviço dos colegas, bater textos, enviar cartas e coisas do tipo passaram a ser a minha atribuição maior durante aqueles nove meses.
O "fora" diante do refeitório.
Antes do curso para cabo, utilizavam alguns soldados como cabo-do-dia, sendo eu um deles. Cabia a mim fazer a escala e, naturalmente, incluir-me nela. Não me recordo se o cabo-do-dia atuava durante uma semana ou um dia e uma noite, mas lembro-me de que incluída na função havia a de colocar a companhia em forma e levá-la ao refeitório, por exemplo. Como nossa companhia ficava em frente ao refeitório, era uma "briga" fazer os soldados marcharem uns poucos metros, dar a voz de comando de esquerda-volver e então o "alto" em frente ao oficial-do-dia, para logo dar outra voz de comando, a de direita-volver. Certo dia, no exato momento de fazer a continência ao mal-encarado oficial-do-dia e apresentar a companhia para que ele a liberasse a entrar no refeitório, recebi dele sim uma áspera observação - olhei para trás e percebi que esquecera do "direita-volver"... Isto é, apresentei a companhia de lado e não de frente para o oficial-do-dia. Ainda que alguns tentassem sussurrar-me "Franke, coloque-nos voltados para a esquerda!", não ouvi e cometi aquela enorme falta diante de todas as companhias reunidas para o almoço. Depois dessa, totalmente "fora de forma", resolvi que eu não servia nem para cabo e não me interessei em em fazer o curso.
O toque de alerta
Em outra ocasião, ainda na função de cabo-do-dia, durante a noite era meu dever reunir os guardas da minha companhia que não estavam nos seus postos, juntamente com os demais soldados que dormiam no regimento, e levá-los em forma, isto é, marchando, à cantina para o café. Como durante a noite "todos os gatos são pardos", isso era tarefa fácil e muitos deles iam marchando e na cadência batucando com as canecas. Ouvido o toque "do café", um pouco mais cedo desta vez, lá fomos nós! Só que a cantina estava fechada e, em vez de café, recebi um enorme "chá" (na linguagem gaúcha daquele tempo, receber uma repreensão). Perto de nós um oficial-de-dia me olhava furioso com os braços na cintura e as pernas abertas: "O toque não foi para o café, soldado, mas foi um toque de alerta!" Nesse caso, eu deveria ter reconhecido o toque simulado e apressadamente reunido os soldados e nos posicionado em frente ao estoque de armas nos fundos da companhia para recebê-las de um responsável. Café ou armas? Instintivamente, preferi o primeiro.
As duas injecões
O que está fazendo o soldado Elvis Presley aqui? Para explicar melhor este tópico, utilizo-me de sua foto que, por virar o rosto no momento da injeção, demonstra que como eu não era amigo de agulhas... Eu ouvira de soldados antigos que duas vezes ao ano receberíamos uma injeção que chamavam de "dose cavalar". Quando chegou o dia, posicionei-me não muito impressionado na fila dos soldados com o braço descoberto. A dor que senti na aplicação e mais o caroço cheio do líquido no meu braço por muitas horas fizeram-me elaborar um esquema quando por ocasião da segunda dose. E meses depois chegou o dia... Meu plano teria de dar certo, pois não me submeteria a tal sofrimento novamente, pensei. Como na ocasião anterior, os soldados posicionaram-se em fila indiana com a manga arregaçada enquanto o "algoz" aplicava a injeção (gemidos de dor eram ouvidos!), virava-se totalmente para reabastecer a seringa e novamente voltava-se para aplicá-la na "próxima vítima". Quando chegou a minha vez, empurrei o soldado da frente que já recebera a sua dose, e simulei um gemido de dor enquanto que o colega seguinte tomou o meu lugar quando o enfermeiro se virou para aplicar nova injeção. E assim deu certo o meu escape!
Experiências pitorescas
Apesar das situações descritas, gostei do serviço militar, da camaradagem, das noite de guarda no frio gaúcho debaixo de um céu estrelado, quando nos envolvíamos em um cobertor que cobria nossa cabeça e punhamos o capacete em cima, das idas à padaria no meio da noite, atraídos pelo cheirinho do pão recém-assado, das paradas diárias ao som da banda do regimento (nossa companhia nunca venceu a competidão das que melhor marchavam...), das vozes de centenas de soldados cantando "És a nobre infantaria, das armas a rainha, por ti daria a vida minha!" e, ah, dos inúmeros 20 dias de dispensa por motivo de economia na alimentação do regimento.
(Nesta ginástica, dou um pulo para o dia 8 de novembro de 2010, há 48 anos ...
Procurando fotos antigas soltas em uma grande caixa, encontrei esta, do infeliz dia da baixa no servico militar, em fevereiro de 1963. A palavra infeliz não é por brincadeira, mas de fato gostei muito do serviço militar e senti falta de meus colegas soldados e de tudo o que encerrava "servir à Pátria", experiência única na vida.
Hoje, tendo enviado a foto para um rapaz que serviu na mesma companhia - CC2 - recebi seu telefonema por skype, conversamos animadamente depois de tantos anos, identificamos soldados da foto - todos hoje com 67 anos! - gostei de saber notícias do soldado 76 (fui o 77) e lamentei saber do falecimento de outro também na foto.)
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Experiência de ser soldado de dois Exércitos
Por coincidência, no mesmo mês em que ingressei no Exército Brasileiro ingressei também no Exército de Salvação. Para surpresa minha, salvo raras exceções, fui muito respeitado e jamais "pegaram-me no pé" por isso. Procurei sempre ser um bom amigo e dar um bom exemplo, salvo, é claro, aquela ocasião da injeção... Certa vez, um rapaz de família tradicional da cidade comportou-se mal na cidade e foi detido por alguns dias na prisão. Assim como fiz com outros, visitei-o e dei um Novo Testamento de bolso para que lesse nas intermináveis horas em que lá passaria. A outros eu convidava para irem no domingo às reuniões salvacionistas. A alguns enfrentando problemas eu procurava ajudar ou aconselhar. Uma das tristezas que tinha era que enquanto militar eu não podia usar o uniforme salvacionista, o que o fiz tão logo dei baixa naquela manhã triste quando, à paisana, todos os rapazes nos despedimos uns dos outros, alguns para nunca mais nos encontrarmos (foto acima). Aonde foram? Onde estarão? Estarão vivos ainda? São perguntas que às vezes me ocorrem, imaginando que a mesma alguns façam com relação a um soldado cujo nome de guerra era Franke, número 77.
Acertando o passo com o céu.
(A seguir, transcrevo uma das meditações do livro que escrevi, "Edificação Diária",a única a abordar uma experiência do meu serviço militar)
Vão indo de força em força (Salmo 84:7).
Por muitos anos durante a Semana da Pátria recordei-me do 7 de setembro do ano em que prestei o serviço militar. Muitos ensaios para o grande desfile foram feitos dentro do regimento. O evento não deixava de ser uma expectativa que eu tinha desde menino ao admirar a grande parada militar na maior avenida da cidade - aquela onde inclusive vivi a maior parte de minha vida - principalmente quando o Nono Regimento de Infantaria desfilava diante do "Altar da Pátria".
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O dia chegou, enfim... mas com ele uma chuva torrencial que fez com que o desfile naquele ano fosse suspenso. O desapontamento não foi maior porque naquele mesmo ano eu me tornara também soldado do Exército de Salvação, sendo iniciado a adestrar-me com as bíblicas armas espirituais que me traziam fé, alegria e entusiasmo. Durante o serviço militar algumas marchas aconteceram, mas não a do 7 de setembro! Lembro-me daquela de 32km quando, à saída do regimento, a banda tocava vibrantes hinos militares, saudando os soldados e despedindo-nos para a longa marcha.
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Naquele instante, erguíamos a cabeça e o peito, alinhando-nos devidamente rumo a uma experiência nova, sem naquele momento sentirmos o peso de todo o equipamento que éramos obrigados a carregar, usando inclusive sobre o leve capacete de fibra um de aço. Porém, à medida que nos distanciávamos, a música ia ficando cada vez mais fraca, até desaparecer por completo, sendo substituída pelo som dos passos dos soldados, mais exaustos a cada quilômetro percorrido.
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Nas minhas "marchas espirituais" no outro exército, cedo aprendi que nem sempre temos um fundo musical a nos animar. Temos que andar "no seco" ou pela fé, muitas vezes sem definir bem o caminho à frente e sem sentir o sabor da vitória rodeando nossos passos. É o ponto onde muitos desanimam e perdem a fé, exatamente quando ela é testada, quando ouvimos os nossos próprios passos cansados e vacilantes na marcha da vida.
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Mas também podemos contar que nas esquinas ou encruzilhadas da nossa jornada, de repente, sem saber de onde vem, escutamos "música no ar"! Sobe o ânimo, redobra a fé e vem a coragem e o entusiasmo para prosseguir. O que aconteceu? Deus fez isso, quem sabe, para atender os rogos de quem orou por nós, alguém que provavelmente nunca saibamos quem foi. E lançando-nos o Seu olhar de infinita misericórdia, o resultado foi o de forças renovadas exatamente quando com as cargas as nossas fraquejavam e chegavam ao fim.
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Se o fardo estiver pesado e o passo tornar-se lento no campo de batalha que é a nossa existência, abramos o cantil da Água da Vida que nos dá o Senhor, abramos o dispositivo da oração, do louvor e da fé e, bem certo, algo acontecerá à nossa frente e nos surpreenderemos com o altar do Senhor tão visível novamente, mostrando-nos um caminho brilhante e nova inspiração para prosseguir, acertado o nosso passo com o céu.
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Edificação Diária
Esta única gravura coloquei no meu armário da companhia.*^*^*^*
Este poema foi encontrado dentro do bolso da jaqueta de um soldado desconhecido, morto no campo de batalha:
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JAMAIS FALEI CONTIGO
Ouve-me, Deus... jamais falei contigo...
Hoje quero saudar-te. Como vais?
Sabes, disseram-me que não existias
E eu, tolo, acreditei que era verdade!
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Nunca em tua obra reparei.
Ontem à noite, da trincheira aberta
por granadas, vi teu céu estrelado.
Então compreendi que me enganaram.
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Não sei se estreitarás minha mão...
Vou explicar e me compreenderás:
Muito curioso... neste inferno horrível
Encontrei uma luz para ver tua face!
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Faremos a ofensiva à meia-noite,
Porém não temo, sei que me vigias.
O sinal! Bem, tenho que me forçar a ir.
Apeguei-me a ti... Quero dizer:
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Talvez esta noite chamarei à tua porta;
Não fomos muito amigos...
Mas... vou poder entrar se a ti eu chegar?
(Deus, bem vês que estou chorando...).
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... Vês, Deus meu!
Ocorre-me que já não sou tão mau...
Bem, Deus, preciso ir - boa sorte é raro,
Porém, agora já não temo a morte.
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No ano de 1968, em uma banca de jornais no centro da cidade de Campos-RJ, dei com esta foto na Manchete aberta. Comprei-a e guardo o recorte até hoje, de um capelão ajudando um soldado ferido na guerra do Vietnã.
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Mini-textos com maxi-significados - 6
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