"Você iria gostar muito de ler este livro!" disse-me minha esposa assim que terminou a leitura em finlandês do "O povo mais feliz da terra", emprestado por sua cunhada Marja no final da década de 70. Anos mais tarde, visitando uma livraria evangélica, perguntei-lhe: "É por acaso este o livro que queria que eu lesse? Se é este, veja, há em português, recém-lançado!" Compramos e logo comecei a lê-lo para, no final, recomeçar a leitura de tanto que gostei!
O leitor que estiver interessando certamente poderá ler a respeito na contracapa (acima). Minha edição é a de 1982 da Casa Publicadora das Assembléias de Deus - CPAD, com tradução de Dulce Estudante, Sara Duarte e Davi Pessoa. Posteriores edições certamente variaram a capa e desconheço a da atual.
O autor é
Demos Shakarian, que em seu livro narra uma longa série de fatos relacionados com cristãos armênios que se refugiaram nos Estados Unidos. Já falecido, foi o fundador e por muito tempo o presidente da
Full Gospel Business Men's Fellowship Internacional (Associação Internacional dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno - ADHONEP). Abaixo, transcrevo pequena parte do início do livro que bem poderia ser chamado de
O genocídio dos armênios profetizado.
"O verdadeiro nome do homem era Efim Gerasemovitch Klubniken, e tinha uma história fantástica. Era de origem russa, sendo a sua uma das primeiras famílias pentecostais a atravessar a fronteira e a fixar residência permanente em Kara Kala, Armênia.
Efim não sabia nem ler nem escrever, contudo, sentado na sua casita de pedra em Kara Kala, ele viu diante de si uma visão de mapas e uma mensagem numa escrita muito bela. Enfim, pediu caneta e papel. E durante sete dias, sentado à mesa de tábuas onde sua família comia, copiou laboriosamente a forma e contorno de letras e diagramas que passavam perante os seus olhos.
Quando acabou, o manuscrito foi levado a pessoas da aldeia que sabiam ler. Sucedeu que esta criança analfabeta havia escrito, em caracteres russos, uma série de instruções e avisos. Num tempo não especificado, no futuro, escreveu o rapaz, todos os cristãos de Kara Kala estariam num perigo terrível. Ele predisse um tempo de inexplicável tragédia para toda a área, quando centenas de milhares de homens, mulheres e crianças seriam brutalmente assassinados.
Viria o tempo, advertia ele, em que todos da região teriam de fugir. Deveriam ir para uma terra do outro lado do mar. Apesar de nunca ter visto um livro de Geografia, o rapaz profeta desenhou um mapa mostrando exatamente para onde deveriam fugir os cristãos. Para total espanto dos adultos, a extensão de água, representada com toda a exatidão no desenho, não era o próximo Mar Negro ou o Mar Cáspio, tampouco o longínquo Mediterrâneo, mas o distante e inimaginável Oceano Atlântico. Não havia dúvida sobre isso, nem acerca da identidade da costa oriental dos Estados Unidos da América.
Os refugiados, porém, não deveriam estabelecer-se aí, continuava a profecia. Era preciso continuar a viajar até alcançarem a costa ocidental da nova terra. Lá, escreveu o rapaz, Deus os abençoaria e os faria prosperar, e a semente deles seria uma bênção para as nações. (páginas 17 a 19)
Em 1914, um período inimaginável de horror chegou à Armênia. ... Mais de um milhão de homens, mulheres e crianças morreram em marchas mortais, inclusive todos os habitantes de Kara Kala. Outro meio milhão foi chacinado nas próprias aldeias, num programa que mais tarde serviria de modelo a Hitler na exterminação dos judeus. "O mundo não interveio quando a Turquia destruiu os armênios" - relembrou ele aos seus seguidores - "Não intervirá também agora".
Os poucos armênios que conseguiram escapar das áreas sitiadas trouxeram com eles histórias de grande heroísmo. Contavam que os turcos deram algumas vezes aos cristãos uma oportunidade de negar a sua fé em troca das suas vidas. O procedimento favorito era fechar à cheave um grupo de cristãos num celeiro em chamas: "Se desejarem aceitar Maomé em vez de Cristo, abriremos as portas", diziam. Uma vez mais os cristãos escolhiam morrer cantando hinos de louvor, à medida que as chamas os engoliam. Os que prestaram atenção ao aviso do rapaz profeta e procuraram asilo na América, ouviram as notícias consternados. "(páginas 20 e 21)
A família de Demos Shakarian estava entre os que fugiram, refugiando-se na costa oeste dos Estados Unidos.
Na época da leitura do livro, no início da década de 80, eu trabalhava em São Paulo e procurei saber onde haveria um dos jantares da ADHONEP, citados na continuação do fascinante livro de Demos Shakarian. Como quem procura acha, fiz minha reserva e naquela noite vesti o meu melhor uniforme salvacionista e fui para o endereço indicado: o Terraço Itália.
Quem lá já esteve conhece a vista noturna que se descortina aos nossos olhos. Mas naquela noite descortinava-se aos meus olhos o ministério da ADHONEP que têm trazido milhões de pessoas, principalmente homens e mulheres de negócio, aos pés de Cristo. Foi servido o jantar ao som de grupos de louvor e, após, foi dada a mensagem da Palavra de Deus, como em uma reunião evangélica, dessa vez em um ambiente de luxo, de modo que atraísse homens de negócio que de outra forma não entrariam em um templo evangélico: o grande e fino restaurante estava repleto!
Alguns anos depois que eu lera o livro, fiz amizade com um filho de armênios que era um homem de negócio. Recomendei-lhe a leitura do livro de Shakarian e certo dia ele me ligou, maravilhado: "Porque você me apresentou, através do livro, à ADHONEP, vamos procurar saber onde será o próximo jantar do grupo e... pagarei para você e para a sua esposa o jantar!" Hotel Maksoud Plaza, na Av. Paulista!! Ainda bem que ele nos prometeu pagar, do contrário não teríamos condições financeiras para participar.. (foto).
Assim, passei a "ficar de olho" nos jantares da ADHONEP e participar dos que e quando pudesse, não como homem de negócio, mas como servo de Deus no Exército de Salvação, como diz o ditado: "A pior das profissões, mas a melhor das vocações".
Nunca me esqueço de um certo jantar que, como sempre, estava repleto de homens de negócio. O serviço de jantar foi excelente, mas a "comida espiritual" para mim estava a desejar. O preletor falou à seleta assistência como quem fala a crianças da escola dominical, e isso me fez sentir um pouco desconfortável. Contou a história de Zaqueu, homem de pequena estatura que era coletor de impostos. E frisou que Zaqueu era um homem temeroso e que o medo era o seu companheiro constante. Após contar do encontro com Jesus e da salvação que entrou no coração e no lar do pequeno homem, foi feito um apelo a quem quisesse chegar à frente para orar. Do meu lugar à mesa, fiquei orando mas também atento a se alguém se aproximaria para orar... Envergonhado perante Deus da minha atitude, vi dezenas de homens de negócio, alguns emocionados, ajoelhando-se à frente para aceitar Jesus como Salvador pessoal!
E houve a participação em um jantar da ADHONEP no estado americano de Massachusetts, quando lá trabalhamos e vivemos, e então a surpresa foi outra: reunimo-nos em um salão simples onde foi servido o jantar e realizada a reunião. Que diferença do Terraço Itália ou de uma das salas do Macksoud Plaza!!
Em 1993, voltando da primeira vez em que vivemos na Finlândia, em Åland, fomos morar na minha cidade natal, Pelotas-RS. E lá, para feliz surpresa minha, conhecemos o Dr. Joaquim P. de Moraes, que era o presidente da ADHONEP local. O simpaticíssimo Dr. Joaquim tornou-se um grande amigo e sua esposa Elaine era tia de um jovem seminarista que lá conhecemos e que veio a casar-se com nossa segunda filha.
E como formávamos uma "família cantante", logo fomos convidados a participar na parte musical dos jantares locais da ADHONEP. Isso aconteceu pelo menos duas vezes, para nossa alegria espiritual e também física... vivíamos pela fé e lautos jantares eram a própria providência do Senhor.
Os meses em que vivemos em Pelotas serão lembrados sempre, não só pelos jantares da ADHONEP, mas pela comunhão com irmãos evangélicos pelotenses e pelo carinho com que cercaram a nossa família, vinda da distante Finlândia, do norte do mundo ao sul do Brasil. Entre os nossos grandes amigos houve um então-tenente do Nono Regimento de Infantaria e um soldado do mesmo regimento (ambos hoje no Facebook), também um jovem que hoje é um bem-sucedido pastor... enfim, foram tantos que ao nomeá-los poderíamos incorrer em falta por esquecimento de alguns.
Uma foto da Internet mostra um jantar em alguma das tantas cidades brasileiras onde opera a ADHONEP. O leitor interessado em saber mais a respeito deste ministério internacional iniciado por
Demos Shakarian, tem a ferramenta do
Google para "cavar" e encontrar informações preciosas de onde opera no Brasil este movimento que poderá movimentar sua vida, para frente, com certeza!
Na história do Exército de Salvação nos Estados Unidos uma figura é destacada: a de Nashan Garabedian, que nasceu na Turquia em 1860, filho de pais armênios. Seu pai foi ministro da Igreja Episcopal nos Estados Unidos, igreja de muitos armênios. Nathan, que mudou seu nome para Joseph, vendeu seu estabelecimento comercial e tornou-se oficial do Exército de Salvação. Seu ministério bastante extravagante tornou-se muito popular e sua pregação corajosa fez com que fosse aprisionado 53 vezes. A foto de 1910 foi extraída do Krigsropet, nossa revista da Noruega.
Foto da Cadete Thais Eliasen Vianna, do cemitério onde estão sepultados muitos salvacionistas em NY.
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Sob a sombra do nazismo (2)
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